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4 horas agoon
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O entusiasmo com que as pessoas acompanham o mais recente capítulo da guerra no Oriente Médio chega a ser comovente. A tudo se assiste com aquele fascínio asséptico de quem acha que a vida é videogame. De quem, do conforto do seu lar, não sente o cheiro da morte nem vê o terror nos olhos do homem comum, seja ele israelense ou iraniano. Definitivamente a guerra virou um fetiche.
Mais pungente ainda é quem anseia por um conflito nuclear. Sim, eles existem – e são legião. É uma gente que se acostumou a enxergar o mundo e a vida pelas lentes da geopolítica, convenientemente ignorando o fato de que, se um cogumelo atômico vier mesmo a se formar sobre Teerã ou Tel-Aviv, pessoas, seres humanos, vidas serão perdidas. A do terrorista islâmico maluco, mas também a de gente boa e inocente nesse imbróglio todo. Sim, elas existem.
É interessante notar como a moral foi excluída da discussão sobre as guerras. Analistas geopolíticos falam em cifras, em terras raras e em acesso a rotas comerciais. Falam até na abstratíssima (mas real) afinidade ideológica entre os líderes das potências mundiais e dos países em conflito. Mas não falam da guerra como uma confissão de derrota da Humanidade. Porque guerra é sempre barbárie. Por mais avançados que sejam os drones.
Agora mesmo fiz uma pausa no texto, dei uma voltinha pelas redes sociais e vi alguém clamar pela bomba atômica sobre Teerã. De novo. Como se jogar um artefato desses, matando centenas de milhares de inocentes, fosse a coisa mais simples do mundo. Como se o espetáculo do cogumelo atômico valesse a pena, nem que fosse para postar no Instagram ou para usar a hashtag #guerranucleareusobrevivi. Aí está o horror da guerra: ela banaliza o assassinato em nome de um bem maior que ninguém sabe direito qual é. (Você sabe?).
E, no entanto, temos guerra. Essa do Irã contra Israel. Aquela da Rússia contra a Ucrânia. E se as guerras fossem apenas essas, distantes e espetaculosas… Mas não. Guerra, guerra, guerra. São tantas as guerras. A guerra ideológica, a jurídica, a político-eleitoral. Tem também a guerra cultural – de cujas fileiras ainda faço parte, por mais combalido que este soldado careca velho de guerra (!) aqui esteja. Sem falar na guerra espiritual.
Será que é dessas guerras todas que tentamos desertar quando eclode uma guerra como a do Irã contra Israel? Sim. Porque é mais fácil acompanhar, analisar e até torcer para um dos lados belicosos quando não é a nossa liberdade, nossa vida e nossa alma que estão em risco. E eu sei que isso é óbvio. De uma obviedade quase repugnante. Mas é a tal coisa: tudo já foi dito uma vez; mas, como ninguém ouviu, é preciso que se repita tudo de novo.