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7 horas agoon
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O bilionário Elon Musk, que em breve assumirá um papel importante no segundo mandato de Donald Trump, reacendeu nos últimos dias uma controvérsia de décadas atrás sobre um escândalo de exploração sexual envolvendo menores de idade no Reino Unido.
Os comentários citam o atual primeiro-ministro trabalhista, Keir Starmer, que na época da abertura de uma investigação liderava a Procuradoria-Geral britânica.
O magnata da tecnologia acusou o governante britânico, por meio de seu perfil no X, de ter sido omisso diante das denúncias de abuso sexual dentro de uma rede de pedofilia liderada por homens de maioria paquistanesa, segundo as investigações da época. Musk chamou o episódio de “vergonha da Grã-Bretanha”.
Essa organização criminosa atuava principalmente em comunidades vulneráveis e carentes do Reino Unido, por meio do aliciamento e violação de crianças em cidades britânicas.
Musk ainda utilizou sua rede social para pedir a opinião de seus seguidores se consideram que os Estados Unidos deveriam intervir para “libertar” o Reino Unido de sua “governança tirânica”, também se referindo ao premiê do Partido Trabalhista, que assumiu o poder em julho do ano passado, após a renúncia do conservador Rishi Sunak.
Conforme os comentários foram ganhando maior proporção na internet, Starmer se manifestou sobre as acusações, repudiando as declarações de Musk indiretamente, condenado em uma mensagem “aqueles que estão espalhando mentiras e desinformação”.
O escândalo das gangues de aliciamento de menores, um dos piores casos de exploração sexual da história do Reino Unido, abarca um longo período. Os primeiros relatos surgiram ainda na década de 1980 e se estenderam até o início da década de 2010.
Durante as mais de quatro décadas, os criminosos aliciaram, drogaram abusaram sistematicamente de milhares de meninas vulneráveis em cidades como Rotherham, Rochdale, Oxford e Telford e Oldham, no norte da Inglaterra.
Um relatório independente feito pela professora Alexis Jay, em 2014, estima que cerca de 1.400 crianças foram exploradas sexualmente em Rotherham entre 1997 e 2013, predominantemente por homens de ascendência paquistanesa.
O documento identificou falhas contundentes das autoridades britânicas em punir os criminosos integrantes dessa rede de pedofilia. Segundo Jay, houve um “nervosismo” das autoridades locais em lidar com a situação devido às “origens étnicas dos perpetradores”, por medo de serem considerados “racistas”, explicou a professora.
Após as primeiras investigações e detalhes sobre o escândalo serem divulgados, as vítimas começaram a buscar ajuda, mas algumas foram ignoradas ou desacreditadas pela polícia, que chegou a culpar as denunciantes pelos crimes.
Posteriormente, jornalistas do jornal britânico The Times também começaram a publicar informações constatando a negligência do governo britânico.
O caso, então, voltou à tona com as declarações de Musk, nas últimas semanas, após serem divulgadas informações de que a ministra da Proteção de Dados do Reino Unido, Jess Phillips, rejeitou o pedido de abertura de um novo inquérito sobre casos semelhantes na cidade de Oldham. A representante do governo trabalhista argumentou que a autarquia local deveria decidir encomendar ou não uma nova investigação.
A professora Jay e o antigo procurador responsável pelo processo contra os autores dos crimes de Rotherham, Nazir Afzal, foram contra a abertura de uma nova investigação durante a gestão de Starmer, afirmando que as recomendações já apresentadas sobre o caso devem ser levadas em consideração e aplicadas. “As vítimas querem ação em vez de outro inquérito nacional”, disse Jay à emissora BBC.
A oposição conservadora britânica, incluindo a líder Kemi Badenoch, repercutiu as denúncias de Musk, defendendo um novo inquérito nacional. Os trabalhistas, por outro lado, questionaram os governos anteriores por não terem “ressuscitado” o caso.
Ao todo, mais de 7.000 vítimas e sobreviventes testemunharam no inquérito independente sobre o caso de exploração sexual, encerrado em 2022. Em 2023, durante a gestão do conservador Sunak, foi criada uma força-tarefa especial para fornecer apoio às vítimas.
O primeiro-ministro trabalhista, Keir Starmer, foi chefe dos Serviços de Acusação da Coroa (CPS) entre os anos de 2008 e 2013, supervisionando os processos penais em andamento na Inglaterra e no País de Gales.
Portanto, a investigação sobre o escândalo de pedofilia foi aberta durante sua gestão da pasta.
De acordo com a imprensa britânica, nove meses após sua nomeação, o CPS optou por não processar os suspeitos de integrarem a rede de exploração em Rochdale, depois de os advogados terem informado que a vítima principal não era “confiável”. Em 2011, no entanto, essa decisão foi anulada por Nazir Afzal, nomeado procurador-geral para o noroeste de Inglaterra.
Com a mudança de rumo no processo, Afzal conseguiu levar nove homens em Rochdale à condenação pelos crimes envolvendo a rede de pedofilia.
Apesar do CPS sob Starmer ter sido fortemente atacado por sua incapacidade de levar adiante a ação, o primeiro-ministro trabalhista nunca foi acusado de qualquer responsabilidade sobre o caso.