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Gritaria fez vizinhos denunciarem feminicídio, mas vítima era Igor Peretto; telefonemas mostram confusão na hora do crime
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O g1 obteve os áudios com as ligações de moradores que acionaram a Polícia Militar para ocorrência, que relataram uma briga de casal. Conforme os áudios, pedidos de socorro foram ouvidos e as testemunhas acreditavam que uma das mulheres havia sido assassinada. Casais estavam dentro do apartamento onde Igor Peretto foi encontrado morto em Praia Grande (SP)
Yasmin Braga/g1 e Reprodução/Redes Sociais
Os moradores do prédio de Marcelly Peretto — onde o comerciante Igor Peretto, de 27 anos, foi morto a facadas em 2024 — suspeitaram de um caso de feminicídio na madrugada do crime. O g1 teve acesso às ligações feitas por testemunhas à Polícia Militar, que relataram gritos de “socorro” vindos de uma mulher.
Igor Peretto foi assassinado a facadas em 31 de agosto de 2024, no apartamento da irmã. O Ministério Público(MP-SP) denunciou Rafaela (viúva), Marcelly (irmã) e Mario (cunhado) por premeditar o crime, alegando que Igor era visto como um “empecilho no triângulo amoroso” formado entre eles. As defesas aguardam agora a decisão da Justiça sobre a ida ou não dos réus a júri popular (veja abaixo).
No dia do crime, as ligações gravadas pelo Centro de Operações Policiais Militares (Copom) revelaram que três testemunhas acionaram a corporação por suspeita de feminicídio. O primeiro chamado foi registrado às 6h18, pouco depois dos suspeitos deixarem o prédio.
Para preservar a identidade das testemunhas, os nomes não serão divulgados. Os trechos dos áudios foram transcritos pelo g1.
👤Testemunha 1 – acionou a PM às 6h18:
“Acabou de subir um rapaz e começou a brigar com a esposa. Ela começou a gritar socorro pela janela. O rapaz saiu e eu interfono no apartamento para saber se está tudo bem e ela não atende”, contou, dizendo ter sido informada por outros moradores.
O Copom revelou que uma viatura foi direcionada ao local, porém uma nova solicitação é feita por volta das 7h10, quase uma hora após a primeira ligação. O solicitante, que também mora no prédio.
👤Testemunha 2 – acionou a PM às 7h10:
“Uma gritaria dentro de um apartamento aqui, e do nada parou. Isso às 6h da manhã. E a gente não sabe se a menina está morta lá dentro”, conta.
Por fim, uma nova ligação é feita às 7h43, dizendo que a viatura da Polícia Militar ainda não compareceu ao local. Em resposta, o agente da PM informou que os policiais estão em deslocamento. O solicitante ressaltou a urgência do pedido, destacando que havia a possibilidade de um feminicídio.
👤Testemunha 3, que acionou a PM às 7h43.
“A gente está com suspeita de feminicídio. A gente não escuta mais vozes. Interfona e não responde, e a pessoa [autor] saiu”, disse.
Veja também:
Entenda como ocorreu o crime
Últimas imagens de Igor
Triangulo amoroso
Vantagem financeira
Como ocorreram as prisões
Sobre o processo
O que dizem as defesas
O crime
Cronologia da morte do comerciante Igor Peretto: tudo que se sabe da descoberta da traição à morte
Reprodução
O crime aconteceu em 31 de agosto, no apartamento de Marcelly Peretto. Dentro do imóvel estavam a vítima, Marcelly e Mário Vitorino. Rafaela chegou com Marcelly ao apartamento, mas o deixou 13 segundos antes do marido chegar com o suspeito pelo assassinato.
De acordo com os depoimentos do trio e dos advogados, a viúva Rafaela tinha um caso com Mário. O advogado de Marcelly ainda disse que a cliente e Rafaela tiveram um envolvimento amoroso no local antes da chegada de Igor e Mario no apartamento.
Igor Peretto foi morto a facadas e teria ficado tetraplégico [sem movimento do pescoço para baixo] se tivesse sobrevivido. A informação consta em laudo necroscópico obtido pelo g1.
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Últimas imagens de Igor
Vídeos mostram a saída da viúva e chegada do comerciante assassinado
O g1 teve acesso às últimas imagens de Igor com vida. Os vídeos mostraram os três suspeitos e a vítima chegando ao apartamento onde ocorreu o crime. Primeiro chegaram Marcelly e Rafaela, mas a viúva deixou o apartamento antes de Mario aparecer com Igor.
De acordo com os registros de câmeras de monitoramento, a viúva e a irmã do comerciante chegaram de carro na rua do apartamento dela às 4h32 de 31 de agosto, sendo que o registro da entrada no prédio foi às 4h38. Dois minutos depois, elas são vistas abraçadas e rindo no elevador.
Viúva de comerciante morto depois de descobrir traição deixou local do crime 13 segundos antes da chegada dele
Reprodução
As imagens mostraram que uma hora depois da chegada, Rafaela apareceu sozinha no elevador e foi embora do prédio. Em um minuto, ela saiu do prédio, entrou no carro e deixou o local. O tempo entre a saída dela e chegada da vítima foi de apenas 13 segundos.
05:42:27 – Rafaela foi vista saindo de carro
05:42:40 – Mario e Igor estacionaram na mesma rua
Às 5h43, Igor foi visto entrando no prédio com Mario pela entrada social. Eles também foram vistos no elevador, onde a câmera flagrou uma discussão. A última vez que Igor foi visto com vida foi às 5h44, quando deixou o elevador com o cunhado e seguiu para o apartamento.
Mario e Marcelly deixam o local juntos por volta das 6h05. O casal desceu pelas escadas, foi até o subsolo e deixou o prédio a pé pela garagem. De lá, os dois foram de carro para o apartamento de Mário, que fica a poucos quilômetros de distância do local do assassinato.
Eles chegaram ao prédio às 6h11, ficaram aproximadamente cinco minutos e saíram segurando bolsas e outros objetos. O g1 não teve acesso a essas imagens.
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Triângulo amoroso
Casais (Mário e Marcelly, à esq. e Igor e Rafaela, à dir.) moravam próximos em Praia Grande (SP) e se encontravam com frequência
Redes Sociais
O MP-SP concluiu que o trio premeditou o crime porque Igor era um “empecilho no triângulo amoroso” entre Rafaela, Marcelly e Mario Vitorino. Ao g1, a promotora Roberta afirmou ter considerado o caso como “chocante e violento”.
A promotora disse que em nenhum momento os envolvidos tentaram salvar Igor ou minimizar o sofrimento dele. “Fizeram buscas de rota de fuga ou de quanto tempo demoraria para [o corpo] cheirar e chamar a atenção de alguém e eles terem tempo de fugir”, acrescentou.
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Vantagem financeira
Igor Peretto, irmão do vereador de São Vicente (SP), Tiago Peretto (União Brasil), foi morto a facadas em Praia Grande
Reprodução/Redes Sociais e Thais Rozo/g1
De acordo com a denúncia recebida pela Justiça, a morte de Igor traria “vantagem financeira” aos acusados. Os advogados dos presos negaram a versão apresentada pelo MP-SP.
De acordo com o MP, Mário poderia assumir a liderança da loja de motos que tinha em sociedade com o cunhado, enquanto a viúva receberia herança. “Marcelly, que se relacionava com os dois beneficiários diretos, igualmente teria os benefícios financeiros”, destaca o MP.
O MP considerou a ação do trio contra Igor um “plano mortal”. O documento diz que eles planejaram o crime, sendo que Mário desferiu as facadas, a viúva atraiu o comerciante e, junto com Marcelly, incentivou Mário a matá-lo.
O órgão levou em conta essas informações para elaborar a denúncia por homicídio qualificado. “O crime foi cometido por motivo torpe, pois Mário, Rafaela e Marcelly consideraram Igor um empecilho para os relacionamentos íntimos e sexuais que os três denunciados mantinham entre eles”, apontou a entidade.
Ainda segundo a denúncia, o assassinato também foi praticado mediante recurso que dificultou a defesa da vítima, pois Igor estava desarmado e foi atacado por uma pessoa com quem tinha relacionamento próximo, e de quem não esperava mal.
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Como ocorram as prisões
Mario, Marcelly e Rafaela, investigados pelo homicídio contra o comerciante Igor Peretto
Reprodução e Redes sociais
Mario, Marcelly e Rafaela, investigados pelo homicídio contra o comerciante Igor Peretto — Foto: Reprodução e Redes sociais
As mulheres se entregaram e foram presas em 6 de setembro, enquanto Mário foi detido após ser encontrado escondido na casa de um tio de Rafaela, em Torrinha (SP), no dia 15 do mesmo mês.
O trio havia sido preso temporariamente em setembro e, no início de outubro, a prisão temporária foi prorrogada. Na ocasião, a defesa de Rafaela chegou a entrar com pedido de habeas corpus, que foi negado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A Justiça de Praia Grande (SP) converteu as prisões do trio, de temporárias para preventivas, após a denúncia feita pelas promotoras Ana Maria Frigerio Molinari e Roberta Bená Perez Fernandez, do MP-SP.
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Sobre o processo
Trio acusado de envolvimento na morte de Igor Peretto chega a fórum para audiência
A primeira audiência de instrução ocorreu em 20 de março, quando as partes começaram a apresentar as provas e argumentos para o andamento do processo. A sessão no fórum precisou ser retomada em 7 de maio e, pela quantidade de testemunhas, foi marcado um novo encontro para 16 de junho.
Após os interrogatórios, o juíz deu um prazo para que as defesas apresentassem pedidos complementares, conhecidos como diligências, até 18 de junho. As defesas dos três réus se manifestaram dentro do prazo.
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O que dizem as defesas?
O advogado Yuri Cruz, que representa Rafaela, afirmou ao g1 que se manifestou no prazo estipulado, solicitando a restituição do aparelho celular da ré. “Para que a defesa técnica possa apurar a existência de novos elementos probatórios que possam robustecer [fortalecer], ainda mais, a categórica ausência de responsabilidade penal de Rafaela”, disse.
A defesa espera que Rafaela não vá a júri popular. De acordo com ele, as acusações da denúncia foram afastadas pelas provas produzidas na audiência.
O advogado Mário Badures, que defende Mario Vitorino, disse que a defesa confia na imparcialidade do Judiciário para a aplicação da lei no caso considerado “tragédia para a vítima e todos os envolvidos”.
Badures disse que a defesa se manifestou na Justiça sobre “algumas diligências pendentes”. “Entre elas, o acesso aos autos sobre o ‘vazamento de dados’ ocorrido no inquérito, a restituição dos telefones apreendidos, algumas questões técnicas acerca das provas digitais e, por fim, a revogação da prisão preventiva, que nesta altura do processo não encontra mais qualquer necessidade”, afirmou.
O advogado Leandro Weissman, que representa Marcelly Peretto, também solicitou informações sobre o inquérito feito pela Polícia Civil. “Requeremos a diligência do processo retornar à delegacia para que seja informado se houve perícia e qual o resultado, bem como a roupa que ela usava e foi apreendida, visando saber de quem era o sangue existente”, disse.
Ao g1, ele também contestou a denúncia ofertada pelo MP, alegando que não havia um “triângulo amoroso” entre os acusados. “Os próprios policiais que conduziram a investigação do caso, excluem qualquer responsabilidade de Marcelly […] A denúncia do Ministério Público em relação a ela é meramente fantasiosa, desprovida da realidade”, conta.
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