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Evento na UERJ tem defesa do grupo terrorista Hamas
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1 dia agoon
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A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) foi palco, na última terça-feira (27), de um evento com manifestações de apoio ao grupo terrorista Hamas e dos atos criminosos do dia 7 de outubro de 2023. Além do grupo palestino, outras organizações terroristas foram saudadas e, do lado de fora, eram vendidas camisetas do Hezbollah.
O denominado ato político “Nenhum passo atrás: deter o extermínio em Gaza e a intervenção sionista no Brasil!”, organizado por entidades pró-Palestina, ocorreu no auditório do 11º andar da instituição pública e contou com a presença de ativistas, membros do MST, de partidos políticos, e de Cláudia Assaf, diplomata do Itamaraty que atua na Embaixada do Brasil em Burkina Faso.
Além de críticas às políticas adotadas pelo governo israelense, liderado por Benjamin Netanyahu, os discursos dos 10 palestrantes defenderam a revolução armada. Em alguns momentos, o ataque terrorista do dia 7 de outubro perpetrado pelo Hamas, que vitimou mais de 1200 israelenses, foi comemorado.
No local, era possível ver cartazes com menções à Yahya Sinwar, ex-líder do Hamas, morto pelo exército israelense em outubro do ano passado e arquiteto do ataque terrorista que desencadeou o atual conflito no Oriente Médio. Um dos participantes portava com orgulho a bandeira do Hamas.

Do lado de fora do auditório, nas dependências da universidade pública, simpatizantes vendiam camisas do Hezbollah e broches do Hamas.


Além desses produtos, também era possível adquirir itens com símbolos comunistas e de líderes revolucionários como Che Guevara, Mao Tsé-Tung, Lenin, entre outros.
“A esquerda tem que fazer uma campanha pública em defesa do Hamas”, disse um dos palestrantes
Cada palestrante falou por volta de 10 minutos e alguns dos discursos faziam uma defesa aberta de grupos terroristas do Oriente Médio.
Thiago Guilherme Faria, advogado da diplomata Cláudia Assaf, defendeu um combate armado ao que chamou de “intervenção sionista no Brasil”.
“Não existe crime em defender os movimentos de resistência, seja o Hezbollah no Líbano, o Hamas em Gaza. O Brasil não categoriza essas entidades como organizações terroristas. Muito diferente do que as pessoas estão falando. Pelo contrário, são organizações de resistência, e sim, muitas vezes a resistência tem que se dar por meio da luta armada”, disse o advogado. Sua fala foi interrompida por aplausos do público e da mesa, e gritos de “viva o Hamas!”.
Outro a defender grupos terroristas foi o representante do Partido da Causa Operária (PCO), que iniciou sua fala criticando partidos de esquerda que não fazem uma defesa aberta dos movimentos revolucionários que prezam pela luta armada no Oriente Médio.
“Infelizmente houve um grande setor na esquerda que não quis defender a resistência armada sob a desculpa da resistência islâmica ser machista, homofóbica. Acusações falsas.”
“A esquerda tem que não só se posicionar, mas fazer uma campanha aberta e pública em defesa do Hamas, do Hezbollah, da Jihad Islâmica, dos Houthis do Iêmen, do Talibã e de todos os povos que se levantam contra o imperialismo.”
Ao final de sua fala, o representante do PCO prestou solidariedade a Lucas Passos, brasileiro de 35 anos condenado a mais de 16 anos de prisão por terrorismo. Segundo a Polícia Federal, Lucas é suspeito de participar do planejamento dos ataques que aconteceriam no DF. Ele foi preso em novembro de 2023 ao desembarcar no Aeroporto de Guarulhos, quando voltava de uma visita ao Líbano.

Em alguns momentos, os palestrantes celebraram e elogiaram o ataque terrorista do dia 7 de outubro de 2023, quando representantes do Hamas invadiram Israel por céu, terra, e mar, vitimando pelo menos 1200 israelenses e sequestrando mais de 250.
Em seu discurso, um ativista pró-Palestina chamou Israel de entidade “nazi-sionista”, além de classificar o atentado do Hamas de operação “heroica” e “grandiosa”.
“[…] De forma magistral, glorificada, engrandecida, pela heroica resistência do povo palestino, que a partir da grandiosa operação do ‘Dilúvio de Al-Aqsa’ [nome dado pelo Hamas ao atentado do dia 7 de outubro] mostra mais uma vez, como outros povos do mundo já mostraram, que é possível vencer qualquer inimigo explorador. Se você tem uma causa justa, se você está do lado certo da história, se se organiza, não há superioridade bélica, econômica.”
Nos intervalos, o público entoava cantos e gritos como “do rio ao mar, a Palestina triunfará”, “chega da chacina, PM na favela e Israel na Palestina” e “fora Israel da Palestina e fora yankees [americanos] da América Latina”.
“Temos medo. Qual é o próximo passo?”, diz aluno judeu da UERJ
A reportagem da Gazeta do Povo recebeu denúncias de alunos que afirmaram que eventos dessa temática vêm ganhando força, especialmente após o 7 de outubro. De acordo com os entrevistados, alunos de origem judaica sentem medo de frequentar o espaço público universitário.
“As manifestações pró grupos terroristas vêm crescendo muito desde o 7 de outubro, antes disso, a gente via algumas pichações em banheiros, dizeres de ‘morte aos sionistas’, coisas mais pontuais. Depois do início da guerra, essas manifestações e eventos aumentaram muito. Muitos cartazes mentirosos em relação a guerra, alguns remetendo a símbolos judaicos, com objetivo de desumanizar os judeus”, afirmou um aluno da UERJ, judeu, que não quis se identificar por medo de represálias.
Ele afirma que os eventos normalmente se apresentam como “moderados”, somente pró-Palestina, sem a promoção de grupos terroristas em sua divulgação. Porém, na prática, para ele, o “objetivo é desumanizar os judeus sionistas. Isso dentro de um espaço público, sendo financiado pelo poder público de certa forma”.
“Isso vem escalonando para cada vez mais. Nós, eu e meus amigos judeus, nos sentimos menos seguros dentro de um ambiente universitário público que se diz plural e acolhedor. Não temos voz. Não temos representatividade nenhuma.”
Para os alunos, a UERJ pouco faz para combater o crescimento de apologias favoráveis a organizações terroristas. E que eventos dessa temática já foram organizados pela própria associação de docentes da faculdade, a Asduerj.
“Se criou um ambiente favorável para que a UERJ virasse palco para o evento do dia 27. Evento esse que chegou ao ápice do absurdo. Eventos com pessoas com camisas do Hamas, com bandeiras do Hamas, vendendo camisas do grupo terrorista Hezbollah, do Fatah. Vendendo produtos dos grupos que juram matar todos os judeus. Não só em Israel, como no mundo inteiro.”
Os alunos afirmam ainda que após o 7 de outubro suásticas começaram a aparecer nas dependências da universidade. Para eles, essas manifestações vêm dos mesmos alunos que promovem mensagens contra Israel.
“Depois do 7/10/2023, eu me deparei com uma coisa que eu nunca tinha visto antes. Algumas suásticas. Prontamente eu pedi para limparem. Mas foram aparecendo mais e mais suásticas e frases com teor odioso. Tudo indica que eram das mesmas pessoas que acenavam contra Israel, pró terroristas”, afirma um estudante.

“Hoje, o ambiente é hostil para nós. Esse último evento ultrapassou todos os limites. Qual o próximo passo? É uma situação horrível. Não temos como nos sentir seguros em um ambiente assim. Temos medo.”
UERJ afirma que não recebeu denúncias e que o conteúdo debatido é de responsabilidade dos organizadores
Procurada, a UERJ afirmou que “o conteúdo debatido no evento e sua dinâmica são de inteira responsabilidade de seus organizadores”. A instituição disse ainda que “reafirma sua posição pela solução pacifista e diplomática dos conflitos regionais, contrária às soluções bélicas, defendendo os direitos das populações civis envolvidas na questão”.
A universidade afirmou, também, não ter recebido nenhuma reclamação da comunidade acadêmica sobre qualquer evento ou registro de “perseguição de cunho antissemita junto às instâncias desta Universidade”. “Orientamos que qualquer pessoa que se sinta perseguida dentro da Uerj registre sua manifestação na Ouvidoria, para que seja possível ciência e apuração.”
Em nota enviada à Gazeta do Povo, Bruno Feigelson, presidente da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (FIERJ), afirmou que “qualquer evento em que se ouça a expressão ‘Palestina Livre, do Rio ao Mar’ (sustentada pelo Hamas para pregar a extinção do Estado de Israel e o extermínio da população judaica); em que se nega o direito a Israel de existir, porque condena e distorce o movimento sionista, e ofende judeus comparando-os a nazistas, não quer construir soluções para o conflito no Oriente Médio, que foi iniciado pelo ataque terrorista do Hamas”.
“Ainda hoje há reféns sob a mira de terroristas! Isso é inaceitável! E é contestado, inclusive, por palestinos que também há muito tempo não aguentam mais o terrorismo. Nesse contexto, porém, o que mais cresce, no Brasil e no mundo, é o antissemitismo contra judeus, alimentado por discursos de ódio à origem judaica, ou seja, por racismo”, lamenta.
“Ficou claro o perigo de fingir que o discurso de ódio é apenas opinião no último triste episódio do assassinato do casal nos EUA. Isso é o que acontece quando se incita o ódio com base em falsas informações para uso político. Seguiremos lutando pelos direitos da nossa comunidade”, finaliza.