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Gisèle Pelicot, vítima durante anos de dezenas de estupros após ter sido submetida à submissão química por parte de seu ex-marido, disse nesta quinta-feira (19) que respeita as sentenças pronunciadas contra seus agressores e que espera que seu processo sirva também para as “vítimas não reconhecidas” de estupro.
“Neste momento penso nas vítimas não reconhecidas cujas histórias permanecem nas sombras, quero que saibam que compartilhamos a mesma luta”, disse Gisèle no tribunal de Avignon pouco depois de terem sido proferidas as sentenças contra os 51 condenados.
A vítima leu um breve depoimento e só no final, quando questionada por um jornalista, disse: “Respeito o tribunal e a decisão”.
Disse isso depois de muitas pessoas que compareceram à porta do tribunal para a apoiar terem demonstrado sua decepção com as sentenças proferidas, na maioria dos casos muito inferiores às solicitadas pelo Ministério Público.
Apenas Dominique Pelicot, que orquestrou as violações, foi condenado a 20 anos de prisão, a mesma pena que o Ministério Público tinha solicitado, também o máximo que poderia ser pedido pelos crimes cometidos.
Gisèle Pelicot evitou entrar em avaliações em sua primeira declaração e preferiu enviar uma mensagem conciliatória.
“Eu queria, ao abrir as portas desse processo, que a sociedade participasse dos debates. Não me arrependi em nenhum momento”, disse a vítima, que lutou para que as audiências fossem públicas mesmo quando foram exibidos alguns dos vídeos dos estupros gravados pelo marido.
“Estou confiante agora na nossa capacidade de enfrentar coletivamente um futuro em que todos, homens e mulheres, possam viver em harmonia com respeito e compreensão mútuos”, acrescentou.
Gisèle Pelicot agradeceu todo o apoio que recebeu ao longo do processo e disse que lhe deram “força para ir à audiência todos os dias”.
Teve também palavras de agradecimento aos seus advogados, jornalistas, associações de ajuda às vítimas mas, sobretudo, à sua família, aos seus três filhos e seus quatro netos: “Eles são o futuro e por eles eu quis travar esta luta”.