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Economia

Como a queda de Lula nas pesquisas mexeu com dólar e Bolsa

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A queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) animou o mercado financeiro nas últimas sessões. Ainda que não seja apontada como principal vetor, a marca inédita de reprovação do mandatário deu impulso extra às negociações de dólar e ações, revelando a satisfação de operadores e investidores com a possibilidade de o petista ficar longe do Planalto após 2026.

Na sexta-feira (14), quando saiu a pesquisa Datafolha que constatou a maior desaprovação ao petista em seus três mandatos, a moeda americana fechou em queda de 1,22%, cotada a R$ 5,70, o menor valor desde 7 de novembro de 2024. No mesmo dia, o Ibovespa (índice de ações da B3, a Bolsa de Valores), saiu de 124.849 pontos, menor cotação desde o início do ano, para então tocar a máxima do mesmo período, de 128.481 pontos.

Nesta terça (18), o dólar fechou em R$ 5,69, menor nível desde o início de novembro. E a B3, em 128.531 pontos, melhor nível desde meados de dezembro. O primeiro refluxo dos últimos dias é observado nesta quarta-feira (19), após apresentação de denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Os negócios foram e continuam sendo influenciados por outros fatores, especialmente o cenário externo e a política econômica do presidente americano Donald Trump. Mas o timing da reação foi revelador.

“O mercado não gosta de políticas muito heterodoxas, ou de governos que acabam que gastando mais do que poderiam. E o Lula, ele tem esse perfil”, diz Bruno Imaizumi, economista da LCA 4intelligence. “Dá pra dizer que a menor possibilidade de um quarto mandato [de Lula] deixou o mercado mais otimista.”

José Faria Júnior, da Planejar, é mais direto: “O Lula vem mal nas pesquisas e esse assunto da queda da popularidade dele com o empate técnico, pelo menos por hora, com Tarcísio de Freitas [governador de São Paulo], tudo isso dá uma animada nos mercados”, diz.

Saúde de Lula influenciou negócios no fim de 2024

Não é a primeira vez que o mercado reage a dúvidas sobre a reeleição de Lula. No início de dezembro, antes da “pancada” de juros do Banco Central, que promoveu a maior alta da Selic (taxa básica) em dois anos e meio, a cotação do dólar foi “aliviada” por especulações sobre a saúde do presidente. Na época, o dólar havia superado a barreira dos R$ 6 pela primeira vez, sob influência da má repercussão do pacote fiscal lançado por Haddad.

A melhora do mercado começou no 10 de dezembro, quando se soube da cirurgia feita às pressas para drenar uma hemorragia dentro do crânio do presidente. O dólar fechou em queda de 0,6%, cotado pouco abaixo de R$ 6,05. A B3, Bolsa de Valores, subiu 0,8%. Na quinta (11), em meio a notícias sobre um novo procedimento médico, a B3 fechou o dia em alta de 1% e o dólar, em baixa de 1,3%, a R$ 5,97.

Na quinta-feira (12), o dólar começou o dia em nova queda, chegando a cair abaixo de R$ 5,90, também sob influência de um leilão de dólares promovido pelo BC. Na sequência, porém, a moeda reagiu e voltou à casa dos R$ 6. Naquele dia, o médico de Lula informou que o procedimento realizado fora “um sucesso” e que o presidente teria alta.

Fatores externos também pressionam moeda

Os analistas ouvidos pela Gazeta do Povo destacam, porém, a combinação de fatores que culminaram no recuo do dólar. Segundo Imaizumi, a LCA 4intelligence – que tem um modelo para comparar o desempenho do real com outras moedas de países emergentes por meio de dados empíricos – concluiu que o recuo das cotações para a casa dos R$ 5,70 está atrelada, na mesma proporção (50%), a movimentos externos e internos.

A moeda americana esteve sob forte pressão desde o fim do ano passado, quando bateu sucessivos recordes nominais de fechamento – o pico foi de quase R$ 6,27, em 18 de dezembro. O cardápio do estresse do mercado incluiu a preocupação com as contas do governo após o frustrante pacote anunciado por Haddad, a saída sazonal de dólares de fim de ano e incertezas ligadas ao governo Trump nos EUA.

Alexandre Lohmann, economista da Constancia Investimentos, diz que parte “espuma” da cotação começou a ser revertida em meados de janeiro, principalmente após a constatação de que a política tarifária ameaçada por Donald Trump não seria tão radical. “A guerra comercial não parece ser tão aguda quanto esperada, e em boa parte, tarifas parecem ser uma técnica de Trump para negociar acordos”, argumenta o economista.

“Mas a queda da popularidade de Lula, causada pela alta dos preços dos alimentos, e os rumores de uma possível não candidatura [de Lula] também foram interpretados como fatores positivos e contribuíram para o recuo do dólar.”

Impopularidade de Lula é fator adicional

Para Alexandre Pletes, da Faz Capital, o movimento teve um componente estrutural, impulsionado pelas idas e vindas de Trump, que geraram um arrefecimento da cotação da moeda americana. O movimento da sexta-feira se deu em sintonia com o recuo do dólar no exterior após Trump adiar a cobrança de tarifas recíprocas de importação.

Ao mesmo tempo, os dados da atividade americana mostraram retração do varejo dos EUA em janeiro, o que pode facilitar o caminho para a redução de juros por lá e favorecer os mercados emergentes como o Brasil.

Pletes observa que o DXY – índice que mede o desempenho do dólar norte-americano em relação a uma cesta de moedas estrangeiras – recou e, automaticamente, refletiu na cotação no Brasil. “Foi mais uma desvalorização do dólar do que uma valorização do real”, explica.

Apesar disso, a queda de popularidade de Lula foi fator adicional. “Óbvio que o mercado acabou se animando um pouco com a possibilidade [de Lula não se reeleger]”, diz. “Significa que que talvez o governo pode estar ficando de lado, pelo menos nesse momento. Retomar a confiança [do mercado] é muito mais difícil que perder.”

Economistas divergem sobre resposta do governo

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings, é mais otimista com o cenário. Segundo ele, aspectos internos e externos, que pesaram sobre o dólar desde o ano passado, melhoraram. “O que se viu foi um Trump mais moderado na ação em relação ao discurso pré-posse e, internamente, os resultados das contas públicas de 2024, apesar de déficit, ficaram dentro da meta fiscal”, pontua.

“A queda do dólar foi motivada tanto pela divulgação dos resultados ruins da inflação nos EUA, que reafirma manutenção dos juros por lá, como pela percepção dos investidores de que o governo Lula terá que fazer uma política econômica mais ordenada, mais ortodoxa do ponto de vista fiscal e monetária”, diz.

Para ele, Lula ter atingido seu pior desempenho nos três mandatos demonstra “que a inflação de fato afetou a imagem do presidente e ele agora terá que ser moderado no discurso e ‘arrojado’ na austeridade fiscal e monetária”.

Há opiniões divergentes. Para Pletes, da Faz Capital, a situação fiscal é muito incerta, apesar do aperto monetário promovido pelo Banco Central, que em janeiro subiu a taxa de juros para 13,25% e indicou no mínimo mais uma alta de 1 ponto percentual.

“Não significa que os índices [de inflação] vão chegar nos patamares desejados” afirma. “E também o governo não vai fazer nada além do que já fez, da proposta de corte de gastos. O governo brasileiro, nesse momento, tem um descompromisso com o corte de gastos.”

Rodrigo Miotto, gerente de câmbio da Nippur Finance, também não vê nenhuma disposição do governo para o ajuste fiscal. “Sou bem cético, eu só acredito vendo”, diz. “Não acho que o governo vai fazer alguma coisa este ano, mesmo com a queda da popularidade. Se o governo demonstrasse de fato um compromisso com o fiscal, a gente poderia ver o dólar caído muito mais, voltando ao patamar de R$ 5.”

Para ele, embora seja difícil atribuir à impopularidade de Lula o recuo do dólar, é evidente que o mercado financeiro está insatisfeito com a gestão petista. “É muito difícil você atribuir a um sentimento só o movimento do mercado, de curto prazo”, avalia. “Mas imagino que hoje os investidores e os grandes players não estão torcendo a favor do governo, não. A questão é que o mercado não acredita mais.”

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