Published
5 horas agoon
By
Na página 28, quase joguei o livro na parede. Sério mesmo. Olha só o que Ruy Castro escreve: “Os integralistas ‘repudiavam a violência, em nome dos princípios cristãos’ – mas, como Cristo, propunham-se a expulsar os vendilhões do templo a chicotadas”. Pô, Ruy, me ajuda a te ajudar, cara. Grrrr. Mas engoli o asco pela analogia estúpida e segui em frente com a leitura. Valeu a pena.
Me refiro a “Trincheira Tropical” (Cia. das Letras). Na primeira parte, o livro conta a história da guerra ideológica travada por aqui quando da ascensão do nazifascismo na Europa. E eu sei que Ruy Castro é progressista e um antibolsonarista convicto. E qual o problema? Ele escreve bem e escreve sobre um assunto que me interessa. Não lê-lo por causa das afinidades políticas dele seria uma estupidez.
Ainda mais hoje em dia, quando só é enganado quem quer e eu não quero. Daí porque demorei lendo “Trincheira Tropical”, parando aqui e ali para consultar outras fontes até me convencer de que, exageros e literatices à parte, o livro faz um retrato bastante fiel do Rio de Janeiro, então capital federal, daquela época. Uma época assustadoramente parecida com a nossa.
Em resumo, no Brasil de 1935 havia três forças políticas de viés autoritário: os integralistas, os comunistas – e Getúlio Vargas. A analogia com o Brasil de 2025 é cristalina. Hoje também temos três forças políticas: o bolsonarismo, o petismo – e Alexandre de Moraes e seu STF amestrado. Mas as semelhanças não param por aí e hoje a situação consegue ser ainda mais complicada, porque ideologicamente tudo está junto & misturado. (O que não quer dizer que seja tudo a mesma coisa). A tal ponto que as diferenças ideológicas muitas vezes acabam se dissolvendo no pendor autoritário que os três lados compartilham.
O interessante, e algo deprimente, daquela época e de hoje é a ausência de uma saída realmente democrática. De uma terceira, quarta, quinta via. Ninguém queria em 1935 e em 2025 ninguém nem saber disso. Ninguém está disposto a tolerar ideias que consideram ultrajantes ou impuras. Não, é mais do que apenas uma questão de ultraje e purismo ideológico. A ideia contrária, diversa ou “impura” é considerada uma ameaça à nossa existência. Aí o que prevalece é mesmo o impulso autoritário de calar aquilo que nos ofende, nos humilha e nos amedronta – só de existir.
Como a história terminou em 1935 a gente tem o privilégio de saber. O integralismo de Plínio Salgado e a Aliança Nacional Libertadora (que tinha Luís Carlos Prestes como presidente de honra) foram esmagados por Getúlio Vargas. Que, por sua vez, acabou como acabou. Resta saber se nesse remake histórico que vivemos o desfecho será o mesmo ou parecido. E se daqui a 90 anos, sem aprendermos nada com os erros do presente e do passado ainda mais distante, ainda estaremos falando da disputa de poder entre direita, esquerda – e um ditador que sintetiza o que elas têm de pior.