Published
2 semanas agoon
By
O aumento da expectativa de vida dos brasileiros e o crescimento da “economia prateada” — a participação de pessoas com mais de 50 anos no consumo das famílias — têm despertado a atenção do mercado imobiliário nacional. Nos últimos anos, projetos voltados para esse público têm sido lançados em todo o país, combinando moradia e serviços voltados à saúde e ao bem-estar.
Segundo o IBGE, a expectativa de vida média no Brasil chegou a 76,4 anos, em 2023. Em 2000, era de 71,1 anos. Já a pesquisa da consultoria Data8 sobre o mercado prateado no país apontou que a participação desse público na economia foi de 24% em 2024 e chegará a 35% em 2044 — movimentando cerca de R$ 3,8 trilhões.
“Acompanho o tema há dez anos e percebo que o modo de viver das pessoas vem mudando. Mas o mercado ainda não oferece produtos adequados ”, afirma Joseph Meyer Nigri, sócio-fundador da incorporadora Naara Longevity Residences, focada em “senior living” — segmento imobiliário direcionado ao público 60+.
Criada em 2023, a empresa lançará em novembro o residencial Naara Higienópolis, na Zona Oeste de São Paulo, com 46 apartamentos de dois dormitórios e plantas de 94 e 145 metros quadrados — cada metro ofertado a R$ 28,5 mil.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2025/u/P/makyP9RBOi163SZMApcw/apoio-2-mockup-senior-living-housi-vitacon-5.jpeg)
A torre terá unidades não residenciais e habitações de interesse social (HIS), que pertencerão à companhia e serão destinadas à locação. O condomínio terá ambientes voltados ao bem-estar e de convivência e socialização, além de cafeteria, restaurante, ambulatório 24 horas com enfermeiros, elevador adaptado para maca e vaga de ambulância na garagem para remoção eventual.
“As pessoas vão viver mais, mas precisam investir em envelhecimento ativo, morando em um prédio projetado para essa fase da vida”, defende Josef Feffer, sócio-investidor da Naara.
Realizado em parceria com Think Construtora e Tecnisa, o prédio tem arquitetura de Itamar Berezin, interiores de Chris Silveira e paisagismo de Roberto Riscala. A especialista em gerontologia Naira Dutra Lemos também foi contratada como consultora do projeto.
Higienópolis também foi o escolhido pela Vitacon para estrear nesse segmento. O Vitacon Sênior é voltado para o público 60+ e terá cerca de 400 unidades de 27 a 85 metros quadrados, com VGV estimado de R$ 400 milhões. A operação das unidades e dos serviços de “pay-per-use”, como fisioterapia e cuidadores, será feita pela plataforma Housi.
Um dos destaques do empreendimento será a consultoria do Hospital Israelita Albert Einstein, que vai estruturar os serviços de saúde e bem-estar de padrão internacional que serão ofertados. O condomínio terá sala de telemedicina, ambulatório e monitoramento em tempo real das atividades, por meio de sensores inteligentes.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2025/F/x/PLUJJqTz2ErZB1cBjaAg/apoio-3-bioos-01-zil-img-02-ext-esquina-lojas-hr00-b.jpg)
“A ideia é criar ambientes que ofereçam uma experiência única a hóspedes e moradores. Espaços que, além de atender às necessidades das pessoas, inspirem uma nova forma de viver nesta fase da vida”, afirma Ariel Frankel, CEO da Vitacon.
Quem também aposta em parcerias estratégicas na área de saúde é a incorporadora Laguna, de Curitiba (PR), pioneira no segmento com o empreendimento Bioos, lançado em 2021. Com duas torres — Home e Health —, o projeto combina moradia com atendimentos médicos via consultórios e laboratórios, todos operados por empresas parceiras.
O prédio residencial terá 108 apartamentos de 42 a 83 metros quadrados. Na torre corporativa, as 289 salas poderão ser conectadas e ampliadas. No “mall”, que conecta os dois edifícios, ficarão as lojas, uma panificadora e um “day clinic”, em fase final de negociação.
“Nosso projeto tornou-se um ‘benchmark’ para o mercado. Para validar o conceito, definimos que pelo menos um morador da unidade tenha 60 anos ou mais”, explica André Marin, CEO do Grupo Laguna. Com 90% das moradias vendidas, a empresa se prepara para lançar até o final deste mês outro “senior living”, o Bioos Barigui.
“O empreendimento terá os mesmos conceito e tamanho de unidades similares, mas em uma torre residencial. Os serviços de saúde serão ofertados em parceria por um centro médico instalado no Park Shopping Barigui, que fica próximo”, conta Marin.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2025/m/j/6VOA4ZTq2NrBCAuhLLZg/apoio-4-bioos-img-int-02-dermatologista.jpg)
A nova onda de projetos para o público mais longevo deve considerar aspectos arquitetônicos, de engenharia e de medicina no momento da concepção dos produtos. É o que recomenda Norton Mello, engenheiro civil e CEO da Bioeng Projetos, especializada no assunto. Segundo ele, a moradia sênior se divide em duas modalidades: assistenciais e não assistenciais. A primeira é voltada a pessoas que têm algum grau de dependência, seja física, social ou psicológica. A segunda é o “independence living”, com moradores de vida mais ativa.
“Cada perfil requer um ponto de equilíbrio em relação ao número ideal de apartamentos no prédio, o tamanho das plantas e o nível de interação entre vizinhos”, explica. Mello sugere que os prédios não fiquem parecidos com hospitais. “O ‘senior living’ não é uma operação de saúde, mas uma moradia. As pessoas que estão lá são moradores, não pacientes”, alerta.
Outro ponto importante é a criação de ambientes sensoriais e imersivos, com aromas e tecnologia embarcada, que estimulem os moradores em suas atividades. “Há disciplinas que são transversais à arquitetura e à engenharia e que podem ser aplicadas para potencializar a longevidade, tornando os prédios mais confortáveis para se viver.”