Published
2 dias agoon
By
“A economia vai continuar crescendo, a inflação vai continuar controlada e tudo vai melhorar nesse país”, disse o presidente Lula em entrevista coletiva na quarta-feira (19).
Diferentes pesquisas indicam que nem todo mundo compartilha desse otimismo, nem da sensação de que a inflação está sob controle.
Mais relevante, talvez, seja outra crença do chefe do Executivo: a de que não há problema em continuar acelerando, mesmo com o motor dando sinal de fervura.
Lula se acostumou a governar com o pé no fundo, queimando gasolina do Tesouro Nacional na subida, no plano e na descida. Quanto mais veloz o PIB, melhor. Dilma também acreditava nisso.
Duas décadas depois do primeiro governo do PT, o mundo é outro, mas o presidente segue agarrado às convicções de sempre: é gastando que se governa, é o governo quem faz o PIB.
Contratou despesas gigantescas aos cofres federais antes mesmo de assumir o terceiro mandato. Como o contribuinte cansou de bancar o passeio, Lula parcela combustível no rotativo do cartão. Faz déficit primário e vai devendo.
A economia de fato cresceu – e bem mais que o esperado. O desemprego diminuiu. Alguns economistas desconfiam que o “efeito multiplicador” do gasto público sobre o PIB esteja maior que o imaginado antigamente. Há quem cite efeitos benignos de reformas estruturais feitas por Temer e Bolsonaro.
A questão é que, após quatro anos crescendo acima de 3%, e quase sempre de carona no consumo, a economia brasileira parece ter encontrado um limite. Nem é avanço espantoso, o que só reforça como o país é pouco produtivo.
O sinal mais claro de sobreaquecimento vem da inflação. Os preços, afinal, são sinalizadores de abundância ou escassez. Parte do aumento tem a ver com problemas de oferta, como se nota em vários alimentos. Mas o avanço persistente em outras categorias tem mais a ver com a demanda. Há também o impacto do dólar, que avançou mais no Brasil que em outros países por causa das aventuras fiscais do governo.
Na tentativa de refrigerar o motor, o Banco Central começou a subir os juros cinco meses atrás. O objetivo é esse mesmo: esfriar a economia. Até gente do Ministério da Fazenda admite que é preciso reduzir a velocidade para a inflação não desgarrar de vez.
Lula discorda e quer acelerar. É esse o sentido da maioria de suas prioridades no momento, da isenção de R$ 5 mil no Imposto de Renda à expansão do crédito consignado para os trabalhadores formais.
O ano eleitoral está logo adiante e o presidente não admite passar a segunda metade do mandato constrangido pelo rebote dos excessos da primeira.
Nem PIB nem emprego impediram o declínio da popularidade de Lula. Se conseguir o que quer, corre o risco de colher mais inflação.