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1 mês agoon
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Ao menos oito mortes estão sendo investigadas por suspeita de intoxicação por metanol no país, segundo informou o Ministério da Saúde na quinta-feira (02). Além disso, há 11 casos confirmados e 48 em análise sobre possível contaminação com o produto.
O recente crescimento no número de casos de intoxicação por metanol está sendo atribuído ao consumo de bebidas alcóolicas adulteradas. Em São Paulo, seis estabelecimentos foram interditados pelo governo por suspeita de venda de produtos contaminados.
O metanol é um tipo de álcool, composto por um átomo de carbono ligado a três hidrogênios (grupo metila, CH₃) e a um grupo hidroxila (–OH). “Ele não possui cor e praticamente não possui odor, então seria facialmente confundindo com etanol, que é normalmente utilizado”, diz Rogério Machado, professor de Engenharia Química da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Esse grupo hidroxila faz com que essa seja uma molécula polar e capaz de formar ligações de hidrogênio com a água, o que faz com que ela se dissolva facilmente. Além disso, ele é um composto inflamável.
A principal maneira hoje em dia de produzir metanol é a partir de uma reação entre o gás natural (metano) com o vapor e monóxido de carbono (CO).
Porém, não é qualquer fábrica que pode produzir metanol, uma vez que o risco da sua produção é elevado.
“É preciso um sistema de segurança muito bom, porque o produto é tóxico. Além disso, o monóxido também é tóxico, então é preciso de fábricas um pouco maiores para fazer de o metanol”, explica Machado.
Machado explica que o metanol é utilizado em sintases químicas para a produção de outros produtos ou como auxílio em reações e análises químicas.
“Ele também serve para biocombustíveis, porque ele tem um único carbono, então ele queima muito rápido”, diz o especialista.
A venda do metanol é regulamentada Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Além disso, Machado diz “é preciso ter licença, alvará e certificado de vistoria de polícia civil dizendo quantos litros a pessoa é autorizada a comprar”, uma vez que o produto é controlado devido a sua toxidade.
Ainda assim, é possível encontrar embalagens pequenas, de um litro, sendo vendidas a partir de R$ 20 na internet.
O metanol também oxida com facilidade, formando em um primeiro momento o formaldeído (H₂CO). Porém, uma vez que ele tenha oxidado completamente, o metanol vira ácido fórmico (HCOOH) e CO₂. É esse processo que torna o metanol tóxico quando ingerido por uma pessoa.
Os efeitos são graves e podem ser fatais.
“Tudo depende da exposição que você tem ao metanol. Em um laboratório, é preciso usar luva, máscara e viseira para evitar contaminação. Já no caso da bebida, não há nenhuma quantidade segura, porque nós vamos processar como qualquer outro álcool e a sua oxido redução gera produtos tóxicos”, explica Machado.
Ainda não se sabe ao certo como o metanol foi adicionado nas bebidas que estão intoxicando as pessoas nos últimos dias.
Porém, normalmente, essa é uma forma utilizada para baratear a produção ilegal e aumentar o teor alcóolico de bebidas. “Como tem o gosto da bebida, você não sente a diferença e se a pessoa passa mal depois, ela só vai achar que bebeu além da conta e não que estava bebendo metanol.”
Também é possível que o metanol tenha sido adicionado nas bebidas como parte de um erro técnico durante a produção de cachaças, licores ou outros destilados clandestinos. Porém, o professor do Mackenzie acredita que esse tipo de erro é mais incomum.