Published
2 meses agoon
By
A promessa do presidente da Argentina, Javier Milei, de cortar verbas destinadas a hospitais públicos poderá custar sua esperança de conquistar maior controle do Legislativo argentino nas eleições de meio de mandato de outubro, segundo pesquisas recentes.
Cerca de 68% dos argentinos se opõem ao plano de Milei de vetar o aumento no financiamento da saúde pública, segundo uma pesquisa da consultoria Synopsis em agosto. Lucas Romero, diretor da Synopsis, afirmou que Milei está “pagando um preço” pelo veto na opinião pública.
No mês passado, uma outra pesquisa, da Universidade de San Andrés, revelou que as políticas de saúde do governo federal estão no topo das reclamações dos argentinos sobre o governo Milei, com 53% dos entrevistados se dizendo “muito insatisfeitos” – superando preocupações com outros nove temas importantes.
O presidente argentino tem surfado em uma onda de apoio popular após conseguir controlar uma inflação que parecia intratável, que deve cair para menos de 30% ao ano em 2025, comparado aos índices de três dígitos do passado recente. Mas os cortes nos gastos públicos estão colocando em risco o futuro do outrora invejado sistema de saúde estatal do país – incluindo sua joia da coroa.
Conhecido por sua expertise de nível mundial em cirurgia e transplantes de órgãos, o hospital pediátrico Garrahan, em Buenos Aires, tornou-se um campo de batalha simbólico na piora da crise dos hospitais públicos, com a indignação popular alimentada por cortes de pessoal e atrasos no atendimento aos pacientes.
Médicos e outros profissionais do hospital disseram que seu poder de compra caiu cerca de 50% desde o final de 2023 – com os salários não acompanhando a inflação – e muitos deixaram seus cargos para trabalhar no setor privado, onde há melhores remunerações.
“Entrar neste hospital era como ser convocado para a seleção nacional de futebol”, disse Santiago Weller, chefe da urologia do Garrahan. “Mas a diferença salarial está fazendo muita gente ir embora. As equipes se desmantelam, e o atendimento de qualidade deixa de ser prestado.”
Uma pesquisa conduzida pela Zuban Córdoba apontou que 80% dos 2 mil argentinos ouvidos disseram apoiar os funcionários do Garrahan e suas demandas por melhores salários e condições de trabalho – incluindo 60% dos próprios apoiadores de do presidente.
O Congresso, controlado pela oposição, aprovou um adicional de US$ 98 milhões por ano para o sistema nacional de saúde pública, mas um porta-voz do governo afirmou que o presidente vetará o projeto na próxima semana, em linha com sua promessa de barrar qualquer medida que possa afetar o equilíbrio fiscal.
Os argentinos elegerão metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado em outubro – uma oportunidade para Milei ampliar a base de seu governo, atualmente em minoria. Um bloco maior no Congresso lhe daria mais liberdade para bloquear medidas da oposição que tentam derrubar suas reformas voltadas a conquistar a confiança de investidores e liberalizar o comércio.
Investidores – que têm apostado com cautela numa economia antes vista como pária internacional – estarão atentos para saber se Milei conseguirá apoio político suficiente para avançar com suas políticas.