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4 meses agoon
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O novo documentário de Petra Costa, aquela do “Democracia em Vertigem”, foi lançado nos cinemas esta semana e estreará na Netflix no dia 14 de julho. Intitulado “Apocalipse nos Trópicos”, o filme trata do crescimento do protestantismo (evangélicos, para os íntimos) no Brasil, bem como os impactos disso na sociedade e na política. E é horrível.
Cheguei a esta conclusão confessadamente preconceituosa antes mesmo de assistir ao trailer. Uma conclusão a que você, aposto, também já chegou. Caso você se dê ao trabalho de ir ao cinema e decida pagar para assistir a “Apocalipse nos Trópicos”, porém, tenho certeza de que será para entrar na sala de exibição com a expectativa de assistir a um filme horrível, chato e sobretudo proselitista. “Sobrevivi a 1h50 de discurso esquerdista insuportável”, dirá você todo orgulhoso na saída. Acertei?
(Ei, não é por nada, não. Mas você está com um milho de pipoca no meio do dente. Aqui, ó. Não. Para direita. Mais pra direita. Maaaais. Pra extrema direita. Aí. Saiu).
E por que isso acontece? Um pouco porque a gente não está disposto a ouvir o que o outro lado tem a dizer. Deusolivre perder meu tempo com uma porcaria dessas! Tenho mais o que fazer. E não estou lhe dando lição de moral, não. Também sou assim e pioro à medida que envelheço. Sensação de que a vida é curta demais. Além disso, “o que é que isso agrega?”, como pergunta minha mulher quando a convido para assistir a “Casamento às Cegas” comigo. Digo, futebol, futebol.
Mas talvez seja pior ainda. Não precisamos nem assistir a “Apocalipse nos Trópicos” para saber que o documentário é ruim, horrível, péssimo porque partimos sempre dos pressupostos de que o outro lado é um lado isolado, sem quaisquer intersecções com o nosso; e de que outro lado só diz mentiras, está mal-intencionado e é hipócrita antes mesmo de abrir a boca. Outro tanto é porque esses pressupostos tendem mesmo a ser verdade.
De qualquer modo, assisti, sim, ao trailer do documentário. Ah, não acredito. É a própria Petra Petra Petrinha na narração ao estilo Rivotril 2mg? “Essa cidade [Brasília] foi desenhada como uma visão do futuro do Brasil. E o cimento que a manteria de pé era uma fé”, começa ela. Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz. Depois vem o Lula dizendo que “o que levou o socialismo ao fracasso foi a negação da religião”. Tom compungido. De autocrítica sábia. Alguém acredita nesse Lula com ar de intelectual? Aí corta para Silas Malafaia dando de dedo e dizendo que “a democracia é a vontade da maioria absoluta”. Pffff.
Em seguida, aparece o Alexandre de Moraes se achando genial ao dizer que “liberdade de expressão não é liberdade de agressão”. Essa é nova, hein! E até rimou. “Democracia não é anarquia”, continua ele. Gênio, nada menos do que gênio. Aí vêm as cenas de caos, cenas do 8 de janeiro, oh, que apocalipse!, e cenas feitas com drones, muitas cenas feitas com drones, claro, tem que ter. Cena com drone é um must. E só pelo trailer dá para deduzir que, para a esquerda, a “novidade” da mistura entre religião e política é uma ameaça. Logo, está na hora de acabar com a religião.
Aí é que está. Se o trailer já basta para confirmar meus maiores preconceitos, que dizer das reações entusiasmadas de quem não só sobreviveu às quase duas horas de falação como também amou essa obra-prima do soporífero imagético involuntário? Que dizer das críticas elogiosas que não li nem vou ler? Aliás, essa coisa de amar documentário é esquisita. Mas tem gente que ama. Tem gente que torce, já reparou? Mas isso é assunto para outro dia.
O fato é que não, não existe a menor chance de “Apocalipse nos Trópicos”, de Petra Costa, ser bom. A não ser que você seja “do contra”. Um tanto porque não é mesmo, te garanto. Outro tanto porque, quando a gente decide de antemão não gostar de uma coisa, seja por isso ou por aquilo, principalmente por aquilo, e ainda mais quando tem política no meio…. aí, meu amigo, não há santo que nos faça mudar de ideia.