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2 meses agoon
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Os rumores sobre o orçamento do Reino Unido já estavam a todo vapor bem antes da data de sua divulgação ser definida, com especulações sobre aumento de impostos representando um risco adicional à confiança de empresas e famílias, já preocupadas com a inflação e a perda de empregos.
Reportagens sugeriram que a ministra das Finanças, Rachel Reeves, está considerando novos impostos sobre a venda de imóveis, maneiras de fazer mais pessoas pagarem imposto de renda, mudanças nos benefícios fiscais e pensões, e possivelmente novas taxas sobre bancos e jogos de azar em seu orçamento anual, com o anúncio agora marcado para 26 de novembro.
O Reino Unido cresceu mais do que qualquer outra economia do G7 no primeiro semestre de 2025, mas grande parte desse ímpeto foi impulsionada pelo aumento dos gastos públicos e pela corrida do setor industrial em se antecipar às tarifas de importação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
As finanças públicas continuam frágeis e analistas afirmam que Reeves terá de aumentar os impostos em pelo menos 20 bilhões de libras (US$ 27 bilhões) – e possivelmente o dobro disso – para manter-se no caminho de atingir suas próprias metas fiscais.
A Confederação da Indústria Britânica já pediu ao governo que não repita o aumento de impostos sobre os empregadores do ano passado e, em agosto, associou uma queda na confiança, nos investimentos e na atividade das empresas de serviços às incertezas de curto prazo.
No mês passado, a Royal Institution of Chartered Surveyors disse que a discussão sobre novos impostos sobre as vendas de imóveis residenciais está causando preocupação, enquanto alguns analistas acreditam que uma queda surpreendente nos preços dos imóveis registrada nesta semana pode ser um sinal de fraqueza futura.
E a empresa especializada em dados salariais Brightmine disse que os empregadores do setor privado provavelmente não aumentarão os salários dos trabalhadores acima da inflação até que o panorama orçamentário fique mais claro.
Neil Bellamy, diretor de insights do consumidor da GfK, que publica o indicador de confiança do consumidor mais antigo do Reino Unido, disse que as reportagens sobre aumentos de impostos provavelmente estão afetando o humor público. “É algo de que as pessoas estão mais conscientes, em termos de como isso poderia afetá-las diretamente.”
Os altos níveis de poupança das famílias indicam cautela do consumidor, ao mesmo tempo que oferecem a perspectiva de um aumento no consumo em algum momento.
Analistas do Deutsche Bank disseram que um novo “Índice do Medo”, baseado nas pesquisas do banco, mostrou que os consumidores britânicos estão mais ansiosos do que em qualquer outro momento desde a pandemia, devido a preocupações com o desemprego, inflação mais alta e relatos de um possível aumento nos impostos.
Para as empresas, a incerteza em torno do orçamento ocorre após os choques do Brexit, da covid-19, o aumento dos preços da energia em 2022 e as tarifas de Trump.
“Se elas estão em posição de investir, ainda hesitam em seguir em frente”, diz Louise Hellem, economista-chefe da CBI. “Elas sentem que se esperarmos algumas semanas ou alguns meses, tudo ficará um pouco mais claro. E parece que nunca chegamos nesse ponto.”
Hellem, que já ajudou a preparar orçamentos anuais como funcionária do Tesouro, disse que o governo está demonstrando interesse em criar uma estratégia de longo prazo para a economia. Ele está tentando simplificar o sistema de planejamento e aumentar os investimentos em infraestrutura – tanto públicos quanto privados.
A economista-chefe da CBI também elogiou a intenção do governo de inserir mais pessoas no mercado de trabalho, mas disse que o aumento de impostos do ano passado para os empregadores e as incertezas sobre os planos para conceder mais direitos aos trabalhadores correm o risco de produzir o efeito contrário.
Em seu primeiro orçamento, no ano passado, Reeves implementou os maiores aumentos de impostos do Reino Unido em três décadas, sendo que a maior parte dos 40 bilhões de libras arrecadados recaiu sobre os empregadores. Ela disse que não estão previstos novos aumentos de impostos nessa escala.
O primeiro-ministro Keir Starmer abandonou, em junho, propostas de grandes cortes em benefícios fiscais, enquanto a autoridade fiscal britânica deve reduzir suas projeções de crescimento econômico, cortando futuras receitas tributárias.
Isso deixa Reeves com poucas opções além de aumentar os impostos para poder cumprir suas metas fiscais – cuja principal delas é a promessa de equilibrar os gastos diários com as receitas até o fim da década -, ou correr o risco de enfrentar problemas no mercado de bônus.
Os investidores continuam muito sensíveis às grandes necessidades de financiamento do Reino Unido depois da crise do “miniorçamento” de 2022, sob a gestão da ex-primeira-ministra Liz Truss. Esta semana, os custos dos títulos de 30 anos atingiram o maior nível desde 1998 em meio a uma queda generalizada dos títulos de dívida pública.
As margens de erro reduzidas nos planos de Reeves para cumprir suas metas fiscais – que, de forma incomum no Reino Unido, são avaliadas duas vezes por ano – também aumentam o risco de que incertezas semelhantes prejudiquem a economia antes dos orçamentos futuros.
Essa possibilidade motivou pedidos para a eventual restauração de maior flexibilidade nos planos orçamentários ou mudanças mais profundas nas regras.
“Se você quer que o crescimento aconteça, vai querer que as empresas que estão investindo tenham certeza sobre o que vai acontecer nos próximos anos”, diz Stephen Millard, vice-diretor de macroeconomia do National Institute of Economic and Social Research, um centro de estudos.
Mas a probabilidade de Reeves criar mais flexibilidade no orçamento deste ano é pequena por causa dos custos políticos de aumentos de impostos muito acentuados ou cortes muito profundos nos gastos, afirma Millard.
O governo britânico também poderá se ver tentado a seguir o exemplo de países da União Europeia, que em março concordaram que poderiam gastar temporariamente mais em defesa sem violar as regras do bloco.
“Se estivermos de volta à mesma conversa em um ano, acredito que haverá discussões honestas sobre se o quadro fiscal é adequado ao seu propósito”, diz Sanjay Raja, economista-chefe do Deutsche Bank para o Reino Unido.