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3 semanas agoon
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O Exército israelense disse neste domingo que o cessar-fogo em Gaza foi retomado após um ataque que matou dois de seus soldados e provocou uma onda de ataques aéreos que, segundo palestinos, matou 26 pessoas, sendo o teste mais sério até agora da trégua mediada pelos EUA neste mês.
O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que o cessar-fogo que ele mediou ainda está em vigor. Segundo Trump, autoridades americanas acreditam que a liderança do Hamas pode não estar envolvida nas violações, que serão “tratadas com firmeza, mas de forma adequada”.
Falando a repórteres a bordo do Air Force One, ele disse não saber se os ataques israelenses foram justificados. “Preciso verificar isso”, disse Trump.
A ajuda a Gaza deve ser retomada na segunda-feira após pressão dos EUA, disse uma fonte de segurança israelense, pouco depois de Israel anunciar a suspensão do fornecimento em resposta ao que chamou de violação “flagrante” do cessar-fogo por parte do Hamas.
O Exército israelense afirmou que atacou alvos do Hamas em toda a faixa de Gaza, incluindo comandantes de campo, homens armados, um túnel e depósitos de armas, após militantes lançarem um míssil antitanque e dispararem contra suas tropas, matando os soldados.
Os ataques mataram pelo menos 26 pessoas, incluindo ao menos uma mulher e uma criança, segundo moradores locais e autoridades de saúde. Pelo menos um dos ataques atingiu uma antiga escola que abrigava pessoas deslocadas na região de Nuseirat, disseram moradores.
“Vamos ter que ver o que está acontecendo. Queremos garantir que tudo fique muito pacífico com o Hamas”, disse Trump.
O presidente dos EUA afirmou que membros do Hamas agindo de forma independente da liderança da organização podem ser responsáveis por provocar os israelenses.
“Eles têm sido bastante turbulentos, têm feito alguns disparos, e achamos que talvez a liderança não esteja envolvida, e então, sabe, alguns rebeldes internos, mas de qualquer forma isso será tratado adequadamente”, disse ele.
O enviado de Trump, Steve Witkoff, e seu genro Jared Kushner devem viajar para Israel na segunda-feira, segundo autoridades israelenses e americanas.
O braço armado do Hamas disse que continua comprometido com o acordo de cessar-fogo, que desconhece confrontos em Rafah e que não tem contato com grupos naquela área desde março.
O vice-presidente dos EUA, JD Vance, não mencionou os ataques israelenses ao falar com repórteres, mas disse que existem cerca de 40 células diferentes do Hamas e que ainda não há infraestrutura de segurança para confirmar o desarmamento delas.
“Algumas dessas células provavelmente vão respeitar o cessar-fogo. Muitas delas, como vimos hoje, não vão”, disse ele.
“Antes que possamos garantir que o Hamas esteja devidamente desarmado, será necessário… que alguns desses Estados árabes do Golfo enviem forças para lá, para aplicar a lei, a ordem e manter a segurança no local.”
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que ordenou ao Exército que respondesse com força às violações do cessar-fogo por parte do Hamas.
Temendo o colapso da trégua, alguns palestinos correram para comprar mantimentos em um mercado principal em Nuseirat e famílias fugiram de suas casas em Khan Younis, mais ao sul, após ataques aéreos atingirem áreas próximas.
Os ataques lembram a resposta de Israel a violações graves do cessar-fogo com o aliado libanês do Hamas, o Hezbollah, no final de 2024, menos de uma semana após sua entrada em vigor e após dias de acusações mútuas de violações, embora esse cessar-fogo tenha se mantido em grande parte desde então.
Mas obstáculos significativos ainda impedem uma paz duradoura em Gaza, onde um cessar-fogo colapsou em março após quase dois meses de relativa calma, quando Israel lançou uma série de ataques aéreos.
O novo cessar-fogo entrou em vigor em 10 de outubro, encerrando dois anos de guerra, mas o governo israelense e o Hamas vêm se acusando mutuamente de violações há dias.
O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, disse que a “linha amarela” até onde as forças israelenses recuaram sob o acordo de cessar-fogo será fisicamente marcada e que qualquer violação ou tentativa de cruzar essa linha será respondida com fogo.
O Hamas detalhou o que considera uma série de violações por parte de Israel, que teriam deixado 46 mortos e interrompido o fornecimento de suprimentos essenciais à faixa de Gaza.
No sábado, Israel disse que a passagem de Rafah entre Gaza e Egito, que deveria ser reaberta esta semana, permanecerá fechada e que sua reabertura dependerá do cumprimento das obrigações do Hamas sob o cessar-fogo.
Israel afirma que o Hamas está sendo lento na entrega dos corpos de reféns mortos. Na semana passada, o Hamas libertou todos os 20 reféns vivos que mantinha e, nos dias seguintes, entregou 12 dos 28 reféns mortos.
O grupo afirma não ter interesse em manter os corpos dos reféns restantes e que equipamentos especiais são necessários para recuperar cadáveres enterrados sob escombros.
A passagem de Rafah está praticamente fechada desde maio de 2024. O acordo de cessar-fogo também prevê o aumento da ajuda a Gaza, onde centenas de milhares de pessoas foram identificadas em agosto como afetadas pela fome, segundo o monitor global de fome IPC.
A passagem já funcionou em cessar-fogos anteriores como um canal essencial para a entrada de ajuda humanitária na faixa.
Embora o fluxo de ajuda por outra passagem tenha aumentado significativamente desde o início do cessar-fogo, até a decisão de domingo de interromper o envio, a ONU afirma que muito mais é necessário.
Questões-chave como o desarmamento do Hamas, a governança futura de Gaza, a composição de uma “força de estabilização” internacional e os avanços rumo à criação de um Estado palestino ainda não foram resolvidas.