Published
3 semanas agoon
By
Seu nome é onipresente na região da Avenida Faria Lima, estampando tapumes que cercam os terrenos mais valiosos. Mas, embora exposto, pouco se vê ou lê a respeito de seu dono. Lucio Jr., CEO da Incorporadora Lucio, é discreto — como seus projetos de altíssimo padrão. Nada de grifes ou pirotecnia arquitetônica: é um luxo silencioso. Para ele, a atenção aos detalhes é essencial, um trabalho de alfaiataria, costurado à mão. Após o último leilão de Certificados de Potencial Adicional Construtivo (Cepacs) na Operação Urbana Faria Lima, pretende lançar projetos e consolidar a empresa como uma “maison de haute couture” do mercado imobiliário.
Que destinação a empresa pretende dar aos títulos de Cepacs?
Lucio Jr. — Compramos um volume relevante de títulos, que serão direcionados a projetos residenciais e corporativos no eixo Faria Lima, onde já temos 15 realizados ou em desenvolvimento. É uma região resiliente, muito desejada pelo cliente de alta renda e onde o produto de altíssimo padrão tem liquidez. No corporativo, é incomparável: os valores não têm similares no restante da cidade.
A ideia é continuar investindo no eixo da operação urbana Faria Lima?
Sim, nossa estratégia está concentrada ali. Não abrimos muito o raio de ação, embora a equação para viabilizar um projeto nesta região — considerando os valores atuais do terreno, custos, tempo de maturação do empreendimento e Cepac — seja extremamente difícil. Mas pretendemos continuar a ser um comprador relevante desses títulos nos próximos leilões.
Temos um terreno em frente à Faria Lima, para um novo corporativo, e outro no final da Rua Leopoldo Couto de Magalhães Júnior, perto do Parque do Povo, onde faremos um residencial com unidades acima de 400 metros quadrados. Um endereço consolidado e referência de alto padrão na cidade.
Para o segmento corporativo na região da Faria Lima, a localização também é essencial?
Sem dúvida. Os terrenos de frente para a avenida têm outro valor. Entretanto, um projeto nosso que não tem essa posição é icônico, resiliente e com vacância zero: o Infinity Tower, com inquilinos como UBS, Bloomberg, Goldman Sachs, Apple e Tik Tok. Empreendimentos com infraestrutura eficiente, gestão condominial e “facilities” para os clientes sempre são muito desejáveis.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2025/w/K/WUM44qReKuKoRfXtMu6Q/infinity-faria-lima16.jpg)
A empresa começou construindo casas no Tatuapé, na Zona Leste. O que a motivou a ir para a Faria Lima?
Faz quase 25 anos que mudamos o foco para fazer produtos desse lado da cidade. Até então, éramos referência na Zona Leste, pioneiros na verticalização do Jardim Anália Franco, por exemplo. Saímos em busca de novas oportunidades, o mesmo impulso que meu pai teve e que o fez sair de Portugal e vir ao Brasil nos anos 1950. O mercado na Zona Leste era limitado, com um perfil de negócios mais bairrista, e sentimos necessidade de explorar novos horizontes. Foi uma decisão muito acertada.
O mercado de alto padrão enfrenta desafios de ‘funding’, custo de mão de obra e de capital e muita competição. Como lidar com isso?
Nossa estratégia é de alfaiataria: costuramos cada detalhe do projeto à mão, desde a escolha do terreno na área certa do bairro. Depois, valorizamos o que não está visível: qualidade das instalações, caixilharia, conforto acústico, pé-direito, iluminação, aromas… Esse conjunto de atributos não é percebido pelo cliente, mas que faz a diferença na hora de morar.
Como aprendeu a fazer essa ‘alfaiataria imobiliária’?
Com meu pai. Ele era alfaiate. Veio de Portugal sem dinheiro, chegou a São Paulo e abriu sua loja com muito esforço. Mas o ateliê foi arrombado e levaram tudo. Foi quando ele migrou para a construção civil. Costumava dizer que rezava todos os dias para o ladrão, pois foi graças a ele que criou a empresa que temos hoje. Na prática, ele era muito detalhista nas obras que fazia. Vigiava tudo, era conhecido como o “engenheiro das rampas”.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2025/M/u/NsjBBVRrCrVAHEO2q67A/firmino-lucio-arquivo-pessoal.jpg)
O segmento residencial tem sido inundado por projetos assinados por marcas internacionais. A Lucio não embarcou nessa. Por quê?
Nos preocupamos muito com o diálogo entre o projeto e o tempo, para que não fique datado. E fomos buscar inspiração em prédios que são agradáveis mesmo com o passar das décadas. Empreendimentos muito rebuscados não tem a essência que valorizamos. Colocar uma parede dourada não posiciona o produto no alto padrão. Enfim, tem prédio para todo tipo de público, mas esse perfil de projeto não dialoga com o comprador que desejamos atingir.
Qual a expectativa para os negócios nos próximos anos?
Temos produzido em média cerca de R$ 3 bilhões em VGV por ano. Cerca de 30% são do segmento residencial de alto padrão, 40% a 50%, da área de “properties”, e o restante, do segmento econômico. Até 2027, queremos dobrar a produtividade no econômico e chegar a R$ 1 bilhão em VGV. No alto padrão, a ideia é continuar bem-posicionado sempre que houver oportunidade.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2025/1/e/SMNuvjTtO4oBsM2BnLCQ/casa-brasileira-t.reines-tre3293.jpg)
Sim, a empresa tem 45 anos, e estou nela há 40. Nunca vi um mar tranquilo no mercado, sempre há um desafio: falta “funding”, escassez de mão de obra ou câmbio. No final, são só situações diferentes para administrar. No Brasil, somos obrigados a revisitar o planejamento estratégico da empresa a todo momento e a fazer as correções de rumo necessárias, dependendo do cenário. O importante é não fazer mudanças drásticas na condução da companhia.