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1 mês agoon
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Em meio à incerteza eleitoral na direita, com a indefinição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre a indicação de um eventual sucessor, a convergência nas críticas ao aumento da carga de impostos contribuiu para delinear “o inimigo comum”, nas palavras de aliados dos governadores ouvidos sob reserva pelo Valor.
Hoje o clima no entorno de Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (União-GO) e Ratinho Junior (PSD-PR) era o de que o campo da direita conseguiu impor um freio a uma série de notícias positivas para Lula, que tem se refletido em evolução do petista nas pesquisas de avaliação do governo e intenção de voto.
Auxiliares dos presidenciáveis afirmam, nos bastidores, que a votação abriu um flanco de ataques ao governo federal, já que a bandeira da redução de tributos tem apelo popular. Além disso, a coesão na ofensiva deu a oportunidade de uma rearticulação do segmento, que atribui as fraturas à atuação “radicalizada” do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) nos Estados Unidos.
Tarcísio — que negou envolvimento nas articulações pela derrubada da medida provisória (MP) no Congresso Nacional, mas depois foi desmentido pelo líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ) —, vinha fazendo conversas, nas últimas semanas, para reforçar a necessidade de que os principais atores da oposição se unam contra o governo federal, independentemente de futuras alianças.
O governador paulista, até o início desta tarde, não tinha se manifestado sobre o agradecimento de Sóstenes por “todo o seu empenho” no convencimento de líderes e presidentes de partidos. No dia anterior, em entrevistas à CNN Brasil e ao UOL, Tarcísio fez a avaliação de que a derrota do governo Lula foi um preço pago por “não ter responsabilidade fiscal”. Nesta tarde, em entrevista à CNN Brasil, deputado foi questionado sobre seu pronunciamento que, segundo ele, não foi “muito bem” compreendido.
Sóstenes, no entanto, reconheceu que buscou o apoio de governadores da direita. “Anteontem e ontem eu liguei para alguns governadores e quando eu disse ‘quero agradecer governadores’, eu disse no plural, e só falei o nome do Tarcísio por um lapso de memória na hora do discurso porque eu não faço discurso escrito, faço do coração. E como ele [Tarcísio] tinha sido atacado, eu falei mais dele”, disse.
Já Zema, Caiado e Ratinho fizeram abertamente, ao longo da quarta-feira, pressão contra a aprovação da MP, recomendando a deputados aliados a rejeição da proposta. Além da questão da elevação de carga tributária, havia a leitura de que a eventual aprovação da MP provocaria um reforço no caixa do governo que fortaleceria Lula ainda mais.
“O brasileiro não aguenta mais pagar impostos. É inaceitável retirar mais R$ 17 bilhões do bolso de quem trabalha e produz para financiar o governo federal até as eleições”, disse Zema nas redes sociais. Segundo um interlocutor do mineiro, ele entende que os governadores estão “do mesmo lado” e que as definições de alianças e eventuais chapas serão encaminhadas mais à frente.
Na semana passada, Zema disse ao Valor que um objetivo comum dos governadores é “caminhar juntos” e trabalhar para que “o Brasil fique livre da esquerda”. A entrevista ocorreu logo após visita dele a Tarcísio, que nega intenção de disputar a Presidência e diz que concorrerá à reeleição em São Paulo. O aparente recuo, no entanto, é encarado com ceticismo por aliados e opositores.
Caiado defendeu a tese de que votar a favor da MP do IOF seria “dar um presente de R$ 30 bilhões para o governo Lula torrar em 2026, com mais medidas populistas e irresponsáveis”. O governador foi rebatido pela ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann, que o acusou de ter “mentalidade tacanha”. Ela também disse que Tarcísio “atuou para sabotar” a MP.
Após a derrota do governo, Caiado foi às redes dizer que seu partido, um dos que votaram contra a proposta, ajudou a evitar um “assalto” aos “bolsos de quem produz e gera emprego no Brasil”. Segundo o governador, o país não precisa “de mais tributos, mas de eficiência no gasto público”.
Ratinho também explorou o argumento da carga excessiva, dizendo que “o brasileiro está cansado de pagar tantos tributos para sustentar uma máquina pública inchada e ineficiente”. O governador também fez uma comparação com seu governo no Paraná e afirmou que “é possível governar com eficiência sem pesar no bolso da população”.