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1 mês agoon
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Em meio a casos de intoxicação e mortes pelo consumo de bebidas adulteradas por metanol, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse na segunda-feira (6), em tom de brincadeira, que “começará a se preocupar” com o problema quando a Coca-Cola for adulterada. A frase tem servido de munição para os opositores do governador, que criticaram a declaração de Tarcísio após três mortes já confirmadas no Estado por intoxicação com metanol.
Tarcísio se reuniu ontem com representantes do setor de bebidas para discutir ações para combater a adulteração por metanol. Ao falar com a imprensa depois do encontro para fazer um balanço dos casos registrados no Estado e de medidas adotadas pelo governo, o governador foi questionado sobre o que tinha ouvido das distribuidoras e deu a declaração que tem sido divulgada nas redes sociais.
“Nós ouvimos [dos representantes do setor de bebidas] uma vontade enorme de colaborar. Quem estava aqui são os fabricantes, os maiores fabricantes, os maiores players do Brasil estavam à mesa, que fabricam bebidas mais famosas que são objetos de falsificação:Jack Daniels, Johnnie Walker,… enfim, todas essas bebidas que são objeto de falsificação. Não vou me aventurar nessa área que não é a minha praia. No dia em que começarem a falsificar Coca-Cola eu vou me preocupar”, afirmou, sorrindo. “Ainda bem que ainda não chegaram nesse ponto. Coca-Cola até aqui, não. E a minha é normal”, disse, em tom de brincadeira. Nesse momento, pessoas que acompanhavam a entrevista coletiva do governador deram risada do comentário.
Em seguida, Tarcísio afirmou que existe uma “vontade enorme” do setor de bebidas em colaborar e resolver o problema, e disse que o gabinete de crise montado pela gestão deve atuar em parceria com a iniciativa privada. “Eles têm muita informação, eles sofrem muito com isso. O que temos hoje? Uma crise de confiança. As pessoas estão com medo e precisamos restabelecer a confiança”, disse o governador, defendendo ações conjuntas do Estado e da iniciativa privada.
Tarcísio afirmou ainda que o governo paulista deve aumentar a fiscalização para evitar a adulteração de bebidas alcoólicas e disse ter pedido autorização à Justiça para destruir todas as bebidas que foram apreendidas e que não tinham nota fiscal nem comprovação de origem. O governador disse ainda que deve apresentar propostas legislativas para endurecer as regras sobre falsificação e comercialização irregular de produtos.
Na mesma entrevista, concedida no início da tarde de segunda-feira, Tarcísio disse que o Estado investigava 192 casos de contaminação por metanol: 14 casos já tinham sido confirmados e 178 estavam sob apuração. Naquele momento da coletiva, duas mortes tinham sido confirmadas e outras sete estavam sendo investigadas. Horas depois, à noite, o governo paulista divulgou um boletim registrando 15 casos confirmados no Estado. Mais uma morte foi confirmada após a ingestiação de bebida contaminada por metanol, chegando a três óbitos.
Parlamentares da oposição compararam a declaração de Tarcísio a uma fala do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a pandemia de Covid-19, em abril 2020, quando, ao ser questionado sobre o aumento do número de mortes, reagiu: “Não sou coveiro”. “Tarcísio é igual a Bolsonaro. Não está nem aí para o sofrimento dos outros”, afirmou o deputado estadual Antonio Donato (PT), Líder da federação PT/PCdoB/PV na Assembleia Legislativa de São Paulo.
“Inacreditável”, disse o deputado federal Orlando Silva (PCdoB). “Pessoas morreram por ingerirem bebidas falsificadas e o governador diz isso. É o novo ‘não sou coveiro’”.
O deputado Guilherme Boulos (Psol-SP) dedicou ao menos quatro publicações ao assunto, com críticas ao governador. “Um desrespeito chocante! Além de não resolver o problema das bebidas com metanol, tripudia da população e das famílias das vítimas”, afirmou Boulos.
“Tarcísio aprendeu direitinho com Bolsonaro. O governador é incapaz de gerir uma crise. Enquanto pessoas sofrem com intoxicação por metanol e famílias choram a perda de seus entes queridos, Tarcísio faz piadinha com a situação”, escreveu em suas redes o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP).
A deputada federal Juliana Cardoso (PT-SP) diz que o comentário do governador é um deboche das vítimas. “Assim, ele mostra que não está empenhado no problema de saúde pública.”
O governador de São Paulo foi procurado, por meio de sua assessoria de imprensa, para comentar as críticas recebidas depois de ter feito a declaração, mas não se manifestou até a publicação desta nota.