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O nome dele está intimamente ligado a um estilo de vida muito particular do Rio: o “jeito Barra de viver”, em residenciais que têm como epicentro a área de lazer. O criador do conceito é o arquiteto Slomo Wenkert, carioca da gema, nascido em Copacabana em 1941, de onde ele trouxe a necessidade de espaços de convivência. Sua história de mais de 60 anos de arquitetura é contada no livro “A Barra da Tijuca pelo olhar e obra de Slomo Wenkert”, da Editora Tix, com capa de Ana Borelli, ensaios de Marcos Sá e patrocínio de Hilton Barra, Carvalho Hosken e Multiplan — as duas últimas, parceiras na transformação da Zona Oeste do Rio pelos traços de Wenkert.
Como surgiu a ideia do livro?
Slomo Wenkert — Foi por acaso. Na pandemia, comecei a escrever um esboço dessas memórias, pensando em deixar para minhas netas conhecerem meu trabalho no futuro. Mas um dos meus filhos leu parte do que escrevi e resolveu fazer um livro. O arquiteto Marcos Sá ajudou a organizar e fez a curadoria dos projetos.
Qual foi a inspiração para criar espaços de convivência nos empreendimentos?
Foi “culpa” da minha infância. Cresci em uma rua sem saída de Copacabana, onde os vizinhos conviviam, se divertiam e se ajudavam. Aquilo me marcou. Então, desde o início da minha carreira, quis fazer condomínios com lugares de interação. Em 1964, fiz o primeiro projeto assim: o Parque da Cidade, com piscina, sauna e playground. Depois, em 1992, fiz outro empreendimento com área de lazer conectando três torres, que estavam separadas no plano original, com paisagismo do Burle. Foi um sucesso de vendas. A partir daí, ficou impensável fazer um projeto residencial sem lazer.
O que sente vendo tantos prédios seus pela cidade?
Orgulho! Mas quem vibra mais são minhas netas. Meus filhos falam: “olha, esse prédio foi seu avô quem fez!”. É o melhor sentimento que tenho sobre isso.
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Por que escolheu a carreira de arquitetura?
Minha irmã mais velha queria fazer arquitetura e disse que eu faria também, para sermos sócios. Mas ela não conseguiu ser aprovada para a Faculdade Nacional de Arquitetura — na época, a única que existia na cidade —, e eu, desafiado, resolvi seguir adiante com a ideia.
São mais de 500 projetos realizados em 60 anos de carreira. Qual foi o primeiro?
Lembro-me de todos! O primeiro foi na Rua do Rezende, no Centro do Rio: um apartamento do tipo “já vi tudo”, aqueles que, de tão pequeno, você enxergava o imóvel inteiro só abrindo a porta. Havia muitos desse tipo na época para a classe D.
Quem o inspirou na profissão?
Oscar Niemeyer, sem dúvida. A inauguração de Brasília (21 de abril de 1960) foi na antevéspera de eu entrar para a faculdade, e a construção da cidade influenciou muitos jovens naquela época a seguir carreira na arquitetura.
Alguns amigos me estimulavam a trilar essa área mais criativa, e ter crescido em Copacabana também impactou: o bairro estava passando por uma grande transformação urbana, com as casas cedendo espaço a prédios, e aquilo contagiava as pessoas.
Na época, havia resistência das pessoas contra a verticalização do bairro, como se vê hoje em dia?
Nada, ao contrário: as pessoas aplaudiam e diziam que, enfim, Copacabana estava entrando no mapa da cidade. Os prédios representavam a chegada da modernidade, e o bairro tornou-se mais desejado. É uma experiência que acontece em qualquer cidade pequena, horizontal, que passa a receber edifícios. Agora, qualquer construção agride e tem um impacto na natureza, por isso, precisa ser feita com cuidado.
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Seus prédios têm muita vegetação. Por quê?
Eu sempre gostei de natureza. Sempre que pude, coloquei uma plantinha no prédio. E água também, porque representa a vida em movimento. Colocava espelho d’água, chafariz… O arquiteto tem grande responsabilidade sobre a saúde das pessoas e das cidades. Um apartamento mal planejado gera estresse, bem como uma cidade mal planejada leva ao caos. De certa forma, é uma profissão semelhante à do médico: enquanto os doutores curam as pessoas de doenças, nós devemos ajudá-las a ter mais qualidade de vida. Os próprios empreendedores estão tomando consciência disso: não basta mais construir um lugar só para morar — é preciso ter espaço para conviver com qualidade.
Como é sua rotina de trabalho hoje em dia?
Moro no Leblon e vou ao escritório na Barra da Tijuca todos os dias. Começo às 9h e fecho o boteco às 16h. Minha esposa brinca, dizendo que eu tenho uma amante: a arquitetura. Aos 84 anos, eu quero continuar trabalhando. Faz parte do meu eu.