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3 meses agoon
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Alexandre de Moraes renunciou à bondade. À decência. Ele renunciou ao respeito, tanto o próprio quanto o alheio, e à possibilidade de admiração. Renunciou à palavra dada em sua sabatina no Senado e à promessa de cumprir os deveres de ministro do Supremo Tribunal Federal em conformidade com a Constituição e as leis da República. Alexandre de Moraes renunciou à honra.
Alexandre de Moraes renunciou à biografia sem ressalvas. À paz de espírito. Ele renunciou à verdade e à Verdade. Renunciou ao pudor, à vergonha, ao constrangimento daqueles que pacientemente lhe dizem que isso é errado, isso é ilegal, isso é imoral, isso é crueldade, isso não vai acabar bem. E se você, leitor, não reconhece isso, é porque talvez você também já tenha renunciado a algo nessa história também. Alexandre de Moraes renunciou ao sono tranquilo para dormir no colchão duro do orgulho perverso.
Alexandre de Moraes renunciou à delicadeza. À gentileza com os fracos, com os réus, com os cidadãos comuns. Ele renunciou à escuta, ao devido processo legal, ao contraditório, à possibilidade de estar errado. Renunciou à dúvida, à falibilidade humana. Alexandre de Moraes renunciou à possibilidade do perdão. E, não é por nada, hein, mas acho que ele ainda vai precisar muito.
Alexandre de Moraes renunciou à compostura que seu cargo exige. Às virtudes. Ele renunciou ao medo sadio de talvez, quem sabe, já pensou?, ele estar abusando um pouquinho do poder. Renunciou à humildade dos que sabem que sabem pouco. Alexandre de Moraes renunciou à prudência e por isso haverá de se fartar no banquete das consequências, ah, se haverá!
Alexandre de Moraes renunciou à linhagem dos justos. À posteridade, por mais que espere ser venerado como salvador da democracia (vai sonhando!), com direito a estátua equestre e tudo. Ele renunciou à vergonha suprema de ser mais temido que amado. Renunciou à ação sem cálculo político. Alexandre de Moraes renunciou à justiça, à presunção de inocência, à separação dos poderes e à nobreza da magistratura.
Alexandre de Moraes renunciou à memória institucional. Ao juízo da história, mas isso nem é o pior. Ele renunciou ao juízo de Deus, até porque acha que já ocupa o lugar Dele. Renunciou à vocação para servir. Alexandre de Moraes renunciou à frustração saudável de tudo aquilo que contraria seus caprichos, paixões e ambições mundanas, do dinheiro à vanglória.
Alexandre de Moraes renunciou à ciência jurídica. À fé um tanto quanto ingênua que os leigos depositam na Justiça. Ele renunciou à crítica, à sabedoria dos mestres, à repulsa que um homem decente nutre pelos puxa-sacos. Renunciou à alteridade, à empatia, à possiblidade de sanar uma dor que não é sua, à generosidade. Alexandre de Moraes renunciou àquilo que torna um homem humano, verdadeiramente humano, e digno.
Alexandre de Moraes renunciou ao autocontrole. À lucidez (e até por isso confunde “mas” e “mais”, sem falar nas crases e concordâncias; até por isso a Magnitsky). Ele renunciou ao não, ao sim, ao talvez, ao risco, à inquietação da Verdade. Renunciou à liberdade e por isso renunciou também à responsabilidade. Alexandre de Moraes renunciou à alma, ao coração, à Eternidade.
Mas ainda há tempo de renunciar a todas essas renúncias, Alexandre.