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3 meses agoon
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BC mantém juros em 15% e alerta para incertezas com tarifaço
O dólar fechou em alta de 0,19% nesta quinta-feira (31), cotado em R$ 5,6008. O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, teve queda de 0,69%, aos 133.071 pontos.
Sem outros eventos importantes, os investidores continuam a avaliar os efeitos do tarifaço no Brasil, agora considerando a longa lista de exceções determinadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
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▶️ Junto com a confirmação da tarifa de 50% contra o país, o governo norte-americano indicou que ficam de fora mais de 700 itens, abrangendo setores estratégicos como suco de laranja, combustíveis, veículos, aeronaves civis e determinados tipos de metais e madeira.
Em análise para o Estúdio i, o jornalista Thomas Traumann diz que Trump fez ‘recuo considerável’ ao abrir ‘lista de exceções gigante’ no tarifaço. “Nós estamos assistindo, ao mesmo tempo, a um grande avanço na piora das relações políticas entre Brasil e EUA, mas a um recuo considerável na questão comercial.”
▶️ O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, afirmou em entrevista ao Mais Você, da TV Globo, que a estimativa é de que 35,9% das exportações brasileiras sejam afetadas agora pelo tarifaço.
Ele destacou que um programa de apoio aos setores afetados já está pronto e será anunciado nos próximos dias. “A negociação [com os EUA] não terminou hoje, ela começa hoje”.
“É um perde-perde. Nos atrapalha em mercado, emprego e crescimento, e encarece os produtos americanos”, afirmou.
▶️ O mercado também avaliou hoje a decisão do Comitê de Política Monetária do BC, que decidiu interromper o ciclo de alta da taxa básica de juros, mantendo a Selic em 15% ao ano.
O colegiado destacou o cenário de incertezas e sinalizou que os juros devem permanecer nesse patamar nas próximas reuniões. Pelo tom do comunicado, diminuiu a expectativa de cortes ainda em 2025.
Veja abaixo como esses fatores impactam o mercado.
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
💲Dólar
a
Acumulado da semana: +0,71%;
Acumulado do mês: +3,08%;
Acumulado do ano: -9,37%.
📈Ibovespa
Acumulado da semana: -0,34%;
Acumulado do mês: -4,17%;
Acumulado do ano: +10,63%.
Tarifaço no Brasil
O presidente dos EUA assinou na última quarta-feira (30) o decreto que impõe uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Inicialmente previstas para entrar em vigor nesta sexta-feira (1º), as taxas foram adiadas para 6 de agosto.
Segundo a Casa Branca, a medida foi adotada em resposta a ações do governo brasileiro que representariam uma “ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos EUA”.
O anúncio oficializa o percentual mencionado pelo republicano em carta enviada a Lula neste mês e afirma que a ordem executiva foi motivada por ações que “prejudicam empresas americanas e os direitos de liberdade de expressão de cidadãos americanos”, além de afetar a política externa e a economia do país.
Em entrevista ao programa Mais Você, da TV Globo, Alckmin sugeriu que as tarifas podem, eventualmente, contribuir para a queda no preço dos alimentos no Brasil, pois parte da produção pode ser redirecionada ao mercado interno.
Segundo o vice-presidente, os preços de alimentos como arroz, feijão, óleo de soja e algumas frutas já apresentam tendência de queda.
“E caiu por quê? Porque caiu o dólar, o clima ajudou e a safra é recorde. Se a safra é 10% maior, o preço cai. Se é 10% menor, ele sobe”, respondeu. “A boa notícia é que há uma tendência de queda do preço dos alimentos.”
Alckmin foi questionado sobre a possibilidade de queda nos preços de carne, café, frutas e peixes — produtos diretamente afetados pela tarifa de 50%. “É difícil, peremptoriamente, afirmar, mas é óbvio que você vai ter que colocar mais desses produtos aqui dentro”, disse ele.
“Agora, muito da exportação é complementar, não está deixando de atender o mercado interno. Você atende o mercado interno e o resto você exporta”, acrescentou o vice-presidente.
E o resto do mundo?
Apesar do adiamento da tarifa para o Brasil, que passa a valer em 6 de agosto, os demais países devem começar a ser tarifados já a partir desta sexta-feira (1º). A nova exceção é o México.
Nesta quinta-feira, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, anunciou que obteve a suspensão das tarifas de 30% que entrariam em vigor nesta sexta-feira, além de um prazo de 90 dias para negociar um acordo comercial.
“Tivemos uma conversa muito boa com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Evitamos o aumento de tarifas anunciado para amanhã e conseguimos 90 dias para construir um acordo de longo prazo com base no diálogo”, afirmou a presidente do México em publicação no X.
Também nesta quinta-feira (31), a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que os EUA continuarão negociando com o México e indicou que todos os países que ainda não fecharam acordo ou não receberam carta de Trump devem ser contatados pelo governo americano ainda hoje.
Juros no radar
Outro destaque do dia foram as decisões de política monetária do Copom e do Fed, anunciadas na véspera. O Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, manteve as taxas de juros do país na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano.
A decisão, anunciada na quarta-feira (30), veio dentro das expectativas do mercado, mas contraria os apelos de Trump, que há meses pressiona por cortes.
Em comunicado, o Fed reiterou as incertezas em torno dos possíveis impactos do tarifaço, repetindo argumentos apresentados nas decisões de junho e maio, mas reconhecendo avanços nos indicadores econômicos mais recentes.
“Indicadores recentes sugerem que o crescimento da atividade econômica se moderou na primeira metade do ano. A taxa de desemprego continua baixa, e as condições do mercado de trabalho permanecem sólidas. A inflação segue um pouco elevada”, diz o comunicado desta quarta-feira, reiterando que o BC dos EUA continuará a monitorar dados econômicos.
O banco central dos EUA afirmou ainda que continuará monitorando os efeitos das informações econômicas recebidas para embasar suas próximas decisões, e reiterou que a incerteza em relação às perspectivas econômicas permanece elevada — o que inclui o tarifaço de Donald Trump.
Já o Copom interrompeu o ciclo de alta da taxa básica de juros, mantendo a Selic em 15% ao ano.
“O Comitê tem acompanhado, com particular atenção, os anúncios referentes à imposição pelos EUA de tarifas comerciais ao Brasil, reforçando a postura de cautela em cenário de maior incerteza. Além disso, segue acompanhando como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros”, diz o comunicado divulgado pelo BC.
Em outro trecho do comunicado, o Copom cita que “o ambiente externo está mais adverso e incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente acerca de suas políticas comercial e fiscal e de seus respectivos efeitos”. E que esse cenário exige cautela principalmente de países emergentes, diante da tensão geopolítica.
O colegiado também enfatizou que vai continuar monitorando o cenário e, se necessário, poderá fazer ajustes na política monetária.
Notas de real e dólar
Amanda Perobelli/ Reuters