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Pacotes de rolinhos de costela bovina congelada importados dos Estados Unidos em supermercado em Pequim, na China
Reuters//Tingshu Wang
A China decidiu taxar e limitar a importação de carne bovina para proteger os produtores locais. O país anunciou nesta quarta-feira (31) a criação de cotas anuais para empresas comprarem o alimento de países estrangeiros, como o Brasil.
Essas importações também receberão uma taxa de 12%, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Haverá ainda uma sobretaxa de 55% sobre as compras que excederem as cotas.
➡️As medidas começam a valer nesta quinta-feira, 1º de janeiro de 2026, e têm duração de três anos.
Segundo o Ministério do Comércio da China, a cota total de importação para 2026 será de 2,7 milhões de toneladas. Esse limite vai aumentar ano a ano.
É um número próximo ao recorde de 2,87 milhões de toneladas compradas pela China em 2024, mas abaixo do volume importado nos primeiros 11 meses de 2025 de alguns países, incluindo os principais fornecedores, como Brasil e Austrália.
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Impacto para o Brasil
Na divisão por países, o Brasil terá a maior cota em 2026: 1,1 milhão de toneladas (veja tabela abaixo).
É um volume um pouco abaixo do que o país vendeu para a China neste ano: até novembro, foram exportadas 1,52 milhão de toneladas.
A China foi destino de 48% do volume total de carne bovina exportado pelo Brasil neste ano e respondeu por 49,9% do total faturado (US$ 8,08 bilhões).
O segundo maior cliente ainda são os EUA, com 244,5 mil toneladas e US$ 1,46 bilhão. Os dados são da Abiec.
O governo brasileiro minimizou o impacto das medidas chinesas. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que a decisão, de um modo geral, “não é algo tão preocupante” porque o Brasil está exportando um montante próximo ao da cota e tem aberto novo mercados para a carne.
Há a expectativa, por exemplo, de que o Japão passe a comprar o produto do Brasil em 2026.
No entanto, afirmou que o governo vai buscar negociar com a China, pedindo, por exemplo, a transferência das cotas de outros países para o Brasil.
Veja as cotas anuais por país (por mil toneladas)
Em nota conjunta com a CNA. a Abiec afirmou que, nesse cenário, passam a ser necessários ajustes ao longo de toda a cadeia, da produção à exportação, para evitar impactos mais amplos.
O impacto potencial desta medida pode significar uma perda de até US$ 3 bilhões em receita para o Brasil em 2026, estima a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), que se diz ter “profunda preocupação” com o anúncio do governo chinês.
“É uma medida que pode funcionar como fator de desestímulo para o pecuarista investir mais na atividade, ampliando a produção”, afirma a associação. “Os efeitos podem se estender por toda a cadeia produtiva, com reflexos sobre geração de renda, emprego e investimentos no campo.”
Investigação iniciada em 2024
Maior importador de carne bovina do mundo e segundo maior consumidor, atrás dos Estados Unidos, a China começou a investigar os impactos das compras do alimento de países estrangeiros ainda em 2024.
As cotas e a sobretaxa são frutos dessa apuração, que foi prorrogada duas vezes.
“O aumento na quantidade de carne bovina importada prejudicou seriamente a indústria nacional da China”, afirmou o ministério ao divulgar as medidas de salvaguardas.
Neste ano, Pequim intensificou o apoio político à cadeia da carne bovina e informou, no fim de novembro, que a atividade pecuária vinha registrando lucro por sete meses consecutivos.
“A pecuária bovina na China não é competitiva em comparação com países como o Brasil e a Argentina. Isso não pode ser revertido a curto prazo por meio de avanços tecnológicos ou reformas institucionais”, disse o analista sênior da Beijing Orient Agribusiness Consultants, Hongzhi Xu, à Reuters.
De acordo com Zengyong Zhu, pesquisador do Instituto de Ciência Animal da Academia Chinesa de Ciências Agrícolas, as tarifas devem ajudar a conter a redução do rebanho bovino no país e dar tempo para que as empresas nacionais do setor façam ajustes e promovam melhorias.
Nos primeiros 11 meses deste ano, o Brasil exportou 1,33 milhão de toneladas de carne bovina para a China, de acordo com dados da alfândega chinesa – acima dos limites de cota previstos nas novas medidas anunciadas por Pequim.
Em 2025, as exportações australianas para a China cresceram de forma expressiva, ganhando participação de mercado em detrimento da carne bovina dos Estados Unidos.
O movimento ocorreu após Pequim permitir, em março, o vencimento das licenças de centenas de frigoríficos americanos e em meio à escalada de uma guerra tarifária de retaliação iniciada pelo presidente Donald Trump. As exportações dos EUA somaram apenas 55.172 toneladas até novembro.
No mesmo período, as exportações australianas de carne bovina para a China alcançaram 294.957 toneladas.
A decisão da China ocorre em um momento de escassez global de carne bovina, que tem pressionado os preços em diversas regiões do mundo — inclusive a patamares recordes nos EUA.