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6 horas agoon
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O brasileiro se planeja pouco, não faz muita conta e a renda em geral é insuficiente para cobrir as despesas mensais, revela a pesquisa “Planejamento e Controle Financeiro”, encomendada ao Datafolha pela Planejar, entidade que representa os profissionais com certificação CFP, de planejador financeiro, no Brasil.
Mesmo aqueles que se reconhecem como organizados na conciliação entre o que entra e o que sai no orçamento, há contradições quando se avaliam os hábitos com um olhar para o futuro. Quando o tema é investimentos, a resposta mais recorrente é o imóvel próprio e a caderneta de poupança. Mas as criptomoedas também aparecem.
O instituto de pesquisa ouviu 2 mil entrevistados a partir de 18 anos, representando os principais estratos sociais da população economicamente ativa, de todas regiões do país. A renda familiar média da amostra ficou em R$ 5,8 mil, com 64% na classe C, 31% na B, e 5% na A.
Na sondagem, só 16% se declaram satisfeitos com a sua condição financeira, com 38% no nível neutro, e 46% insatisfeitos. A partir dessa percepção, a Planejar quis investigar como cada grupo lida com as suas finanças e a que tipo de auxílio recorre para tomar decisões.
Pouco mais de um quarto dos brasileiros (27%) se consideram muito ou extremamente planejados. Já aqueles que se autoavaliam na ponta oposta, pouco ou nada planejados, compõem 41%.
Dois terços afirmam planejar as despesas do mês sempre ou frequentemente. Entre os insatisfeitos, esse número chega a 55%, e, entre aqueles que não se consideram pessoas planejadas, a fatia fica em 44%.
Pouco mais da metade dos entrevistados (52%) afirma ter uma boa ideia, mas não sabe o valor exato do que gasta por mês. Mas 59% sabem qual é a renda mensal (59%), seja fixa ou variável.
Quatro em cada dez entrevistados admitiram ter gastado mais do que a renda no último ano. O índice chega a 53% entre os insatisfeitos com a condição financeira e a 54% entre os que não se consideram planejados financeiramente. Só um em cada quatro entrevistados gastou menos do que recebeu, sendo que entre os satisfeitos com a condição financeira esse índice chega à metade. Entre os que se consideram planejados fica em 42%.
“As pessoas mais planejadas têm mais visibilidade quando estão falando de renda, mas 22% delas já gastaram mais do que ganham”, diz Ana Leoni, presidente da Planejar.
Uma parcela de 43% dos entrevistados não conta com nenhum dinheiro guardado para emergências. Esse público é composto principalmente por mulheres (62%), pessoas da classe C (78%), do Sudeste (43%) e com idade média de 40 anos. Entre aqueles que têm alguma reserva, 48% afirmaram que ela duraria até um ano, 9% mais do que isso. Para um terço, o valor poupado duraria apenas três meses.
Uma parcela de 28% diz ter um plano ou orçamento definido. Esse índice sobe para 56% entre os satisfeitos com a própria condição financeira e 52% para os que se consideram pessoas planejadas. E cerca de um quarto da população das classes A, B e C (23%) não tem nenhum tipo de planejamento financeiro.
Seis em cada dez brasileiros (57%) não contam com ajuda nas finanças pessoais, sendo que 34% preferem se informar sozinhos. Entre os 43% que recorrem a algum tipo de auxílio, a maior parte busca parentes e amigos (32%), 11% os profissionais dos bancos e só 6% os planejadores. As principais razões atribuídas aos pedidos de ajuda foram problemas com dinheiro ou alguma orientação financeira.
“Alguém vendeu para as pessoas a ilusão de que elas resolvem a vida financeira de forma autônoma. É uma temática delicada, pautada pelas emoções, é um assunto técnico e complexo e você vai lá fazer sozinho, no autosserviço? Quando está doente, procura um médico, quando vai fazer a reforma da casa, um profissional para executar a obra, e na área financeira, acha que pode cuidar do seu dinheiro sozinho? As pessoas precisam da orientação de um profissional”, defende Leoni.
Só 2% disseram ter contratado um planejador financeiro, principalmente para entender melhor sobre algum assunto ou buscar orientações. Mas 49% considerariam contar com o serviço com o intuito de se organizar financeiramente, um tema que ganha simpatia principalmente entre os mais jovens, observa Leoni. “Tem um potencial imenso se olhar o quanto ainda a atividade pode crescer e ser referência para as pessoas.”
O Brasil tem cerca de 11 mil planejadores financeiros com a certificação CFP, um selo de distinção profissional. Segundo mapeamento do Financial Planning Standards Board (FPSB), divulgado em outubro, o país tem um planejador para cada 11.644 adultos entre 25 e 69 anos. Os dados mostram um mercado em expansão, mas ainda distante de países como Estados Unidos, Hong Kong e Canadá, onde há menos de 2 mil adultos para cada planejador financeiro certificado. O Brasil ocupa o 13º lugar no ranking, atrás de países como Malásia e Cingapura.
No Brasil, parte significativa dos planejadores está alocada nas instituições financeiras, diz Leoni. A Planejar fez uma sondagem para selecionar aqueles que estariam dispostos a atender o cliente diretamente. No site da entidade é possível buscar um profissional de acordo com a especialidade, completa.
O fato é que a maioria dos brasileiros tem problemas financeiros. Na pesquisa do Datafolha, 39% afirmam que pagam as contas, mas não sobra dinheiro. Uma parcela de 19% diz que nem sempre consegue honrar todas as obrigações do mês. Esse índice é maior entre os insatisfeitos e entre pessoas que não se consideram planejadas.
Quando se fala em aposentadoria, há um descolamento entre expectativa e realidade: o percentual de aposentados que se sustentam pelo INSS chega a 82%, enquanto entre os não aposentados apenas 64% acreditam que o sustento virá da previdência pública. A reserva própria chega a 13% entre os aposentados e a 31% entre os não aposentados. A previdência privada alcança 17% dos que são aposentados e 22% dos que ainda estão na ativa.
Essa conta, cedo ou tarde, chega: 42% dos aposentados afirmam que já fizeram cortes de gastos e 18% dizem que não recebem o suficiente. Entre os não aposentados, os que acreditam que vão passar por essas situações são 24% e 11%, respectivamente. Para 29% dos não aposentados, a percepção é que a situação financeira vai melhorar, mas entre os aposentados apenas 11% dizem que de fato melhorou.
Outro aspecto que a Planejar quis investigar foi o de investimentos. O imóvel próprio aparece como principal item citado pelos entrevistados (51%), com a caderneta de poupança (36%) e a renda fixa (30%) na sequência. A renda variável (16%) e as criptomoedas (14%) também aparecem.
“É um pé em cada canoa, um na poupança o outro em cripto, no outro extremo”, diz Leoni. “Ainda tem pessoas com baixa poupança no Brasil, aquelas que não têm nenhuma reserva e aquelas que têm o imóvel como a principal citação.”
Uma parcela de 57% da amostra tem algum tipo de seguro, sendo o plano de saúde o item predominante (35%).
Leoni diz que a ideia foi também avaliar a percepção de planejamento sucessório, sendo que 42% dos entrevistados afirmam que os parentes saberiam acessar bens depois que morressem. Mas é um tema que ainda precisa ser aprofundado, não deveria ser restrito às camadas mais favorecidas da população.
“De todas as dimensões de planejamento financeiro, é a que está menos no radar das pessoas. Se falar de dinheiro é tabu, imagina falar de dinheiro e morte.”